sábado, 27 de novembro de 2010

Um adeus



"Come on, come on, don't leave me like this
I thought I had you figured out"

Eles vem e vão
Aparecem quando querem
Fazem mil promessas
Desaparecem sem permissão

Se mostram surpreendentes
Parece até que vai dar certo
Mas é enganar a si mesma
Achar que pode ser diferente

Uma noite onírica
Com um tom de esperança
E um tremor ao tocar

Um apressado adeus
Vai-se embora mais uma vez
Nada se lembrou de deixar
Yara Lopes

sábado, 13 de novembro de 2010

Nada

Os momentos tristes aparecem. Aqueles que te fazem lembrar de tudo em câmera lenta. Aqueles que quando acontecem já ficam gravados em você, já sabendo que provocarão estragos tremendos. Aqueles que te fazem chorar e que te causam dor. Deixe a dor inundar. Chega um momento em que ela é tão forte que te adormece. Não adianta tentar não sentir. Passe por isso. Sinta a sua dor. Veja ela sumir. Ou veja ela se alojar.

Existem milhares de coisas me esperando no meu mundo. No mundo real, que não espera os seus problemas se resolverem. Eu sei que deveria não me esconder, voltar pra esse mundo. Mas eu nem ligo. Vou me delisgar por um tempo. Vou me permitir inundar.

Três palavras mudam tudo. Te fazem acordar. Me fizeram querer dormir. E é por isso que anseio agora. Preciso voltar pra casa. Vou me reencontrar agora que já vi o que achei que tinha perdido. Isso porque as pessoas sentem coisas diferentes, o que parecia impossível é o que se aproxima mais rápido.

Não queria que tivesse acontecido. Mas foi o melhor que eu poderia ter merecido. É o que deveria ter esperado. Devemos seguir mais o que pede nossa cabeça. Eu segui o coração. Olhei pra trás. Não quero pensar no que vem pela frente. É preciso ficar longe de tudo, longe de si.

Eu achei que nós havíamos chegado tão perto. Eu fui longe demais. Fiz sozinha o caminho de dois. Vou voltar pra mim.

Yara Lopes

domingo, 31 de outubro de 2010

Choppada ECO


Bom, o tema já foi discutido e redescutido por todos, mas não poderia deixar de escrever sobre essa noite épica na vida dos queridos estudantes da ECO(pra quem não estuda com a gente na melhor faculdade de comunicação, só posso lamentar) que trouxe na manhã seguinte uma grande ressaca moral. Pode atirar a primeira pedra quem não teve a sua. Então, já que as fotos ainda estão pra sair e geral já espalhou tudo no twitter, ninguém vai reclamar se eu falar um pouquinho das coisas que pude ver por lá, uma das vantagens de permanecer sóbria do início ao fim da festa. Logo que chegamos a Praia Vermelha, ainda não tinha tanta gente, nem estavam servindo bebida, as coisas estavam bem tranquilas. Até achei que isso de que a choppada era o máximo, que várias coisas aconteciam e que valia muito a pena fosse mito, um amigo meu compartilhava dessa opinião, achava que ia ser fraquinha.

Mas as coisas começaram a esquentar bem mais rápido do que imaginávamos, as pessoas foram com muita sede ao pote- na verdade á cervaja, ao gummy, á tequila... E aí coisas engraçadas começam a acontecer: o menino que não consegue ficar em pé e me fala várias coisas estranhas, uma amiguinha que nunca bebeu e decidiu ficar louca na choppada, um veterano dançando sozinho meio isolado perto das caixas de som e um amigo que ficou felizinho e me fez entrar naquela água poluída. É claro que várias pérolas apareceram, um bando de gente bêbada junta, não era pra outra. Declarações de amor "pra sempre" reinou, na verdade, naquele dia tudo era "pra sempre". Era no nível "Você é meu melhor amigo pra sempre", "O nosso grupo vai ser unido pra sempre" e até "Poderíamos continuar assim ficando, na ECO, pra sempre" . Todos eram amigos, todos se amavam, todos eram muito felizes.
Outra frase memorável? "Cadê o Eric?". Era a pergunta que não queria calar. Enfim, ele aparece, e faz a felicidade geral dos amiguinhos calouros, não só pela sua ilustre presença dele, mas por ganhar uma Vodka na rifa e começar a embebedar todo mundo ainda mais, se é que isso era possível. E aí teve gente que precisou afirmar "Eu sou heterossexuaaaaaal" e "Eu amo a minha namorada", além de outros que tinham certeza de que estávamos no Iraque. É, que fase.

Tivemos algumas revelações, umas mais contrangedoras, outras extremamente constragedoras, seguidas de meninos dando fora porque seu coração pertencia a outra dama- é, ele fez questão de deixar isso claro pra todas as pessoas presentes. Além da peninha de um cara que ficou perseguindo a menina a noite inteira, mas ela conseguia fugir sempre. Me lembro das pessoas me perguntando se eu estava bem, porque eu estava mega feliz- o que é o meu estado normal, sem precisar de alcool na minha corrente sanguínea- e quando se convenciam de que eu estava bem, me pediam encarecidamente pra eu cuidar delas, não deixarem passar muita vergonha e não deixaram falar bobeira pra mãe quando ligassem pra ela. Eu tive êxito em alguns casos, fiquei correndo pela praia igual a uma maluca pra me certificar de que todos estavam, bem, tendo inclusive que invadir a tenda de bebidas e tirar um bêbado maluco que achava ter condições de servir as pessoas, mas só sabia derramar cerveja nelas e beber o que restava nas latas. É, fora o que pra mim foi o caso clímax: uma menina agarra um menino de forma muuuito aleatória, sendo que esse já tinha jogado uma terceira na areia anteriormente, a qual presenciou a cena de agarramento posterior. É, foi mesmo uma barra.


Mas nem só de vergonha se faz uma choppada. Casais se desenrolaram, amizades foram feitas, tocou "I got a feeling" e todo mundo se abraçou - apesar de muita gente não se lembrar disso- e o must foi quando começou a tocar "Pra te enlouquecer, pra te enlouquecer..." e aí os calouros de fato enlouqueceram. Só faltou tocar "Sou rycah" e "Época das carroças" pra ser sucesso total. Rimos muito, conversamos, dançamos, aproveitamos o nosso momento, celebramos a nossa entrada nessa faculdade maravilhosa, com pessoas muito, muito legais. Os vexames, as ressacas, o corpo cheio de areia, os pertences perdidos e o medo das fotos que estão pra sair são apenas detalhes que deixaram o acontecimento ainda mais emocionante. Nada paga ouvir as histórias do dia seguinte das pessoas no Laguinho, contar pra elas o que elas disseram e ver a cara de espanto quando elas não se lembram, dividir os melhores momentos e as melhores frases, estar junto de amigos, que já estão no seu coração e que continuarão na sua vida por tempo indefinido, que eu espero significar eternamente.

E pra deixar todo mundo ainda mais feliz, Festa dos Calouros está chegando. Com mais momentos felizes, mais amores "pra sempre", mais memórias perdidas, mais desenrolos, amizades, risadas e dias seguintes.

O que eu tirei de tudo isso é que a ECO é muito legal, pessoas podem ser muito engraçadas, a bebida tende a mostrar o que a pessoa de fato é e você não precisa fazer coisas erradas pra se divertir- você pode simplesmente olhar os outros fazendo e rir muito, porque tem sempre alguém que faz. Choppada da ECO desse semestre? Poxa, que fase.

Yara Lopes

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um desabafo


Esse é um texto de revolta, confesso. Não é a minha intenção contaminar ninguém com o meu estresse ou a minha raiva, mas eu gosto de externar as coisas que eu penso e que eu sinto, e hoje mais do que nunca eu precisava colocar esse turbilhões de coisas que estão me atormentando. Às vezes a gente acorda estressado, irritado, quer gritar com o mundo. Não dá vontade de sair da cama, não queremos ver ninguém, não queremos conversar, não existe nada que seja bom. Sim, pode parecer o contrário na hora, mas o problema é com a gente e não com o resto do mundo. E é complicado, porque as coisas não param simplesmente porque você acordou sem vontade, o trabalho continua lá te esperando, a faculdade não vai sair do lugar, a casa precisa ser arrumada, você vai ter que falar com as pessoas e elas falarão com você, porque o mundo continua girando, em torno do sol, não da gente. E é isso que parece causar mais irritação.

Nesses dias começamos a perceber a inutilidade das convenções sociais, por exemplo, por que temos que falar bom dia, contar do que aconteceu com a gente, ouvir o que aconteceu na vida das pessoas e ainda sorrir quando não sente a mínima vontade de fazê-lo? Na verdade, não há a mínima vontade de fazer coisa alguma, não existe nada que consiga fazer tudo isso passar. Tem que esperar o tempo passar.
E sim, é isso que eu sinto agora. Não só hoje, tem sido em geral uma semana ruim, e eu não sei bem a razão, talvez porque não haja uma em especial. Simplesmente não tem nada que me agrade, não tenho vontade de conversar, não quero assistir aulas, não quero ver o mundo. Hoje foi o pior desses dias ruins. Eu quebrei todas as regras. Ouvi a música que não poderia ouvir, e aí comecei a ver as fotos que já deveriam ter sido apagadas não só do meu computador, mas da minha vida. E chorei. Chorei pelas coisas de que me lembrei, por saudades do que eu tive, por vontade de voltar no fim de semana que eu fui tão feliz que achei que ia explodir, por querer ter o poder de escolha nas minhas mãos, por querer ter alguém do meu lado que faria toda a diferença do mundo. E eu gritei, até assustar os vizinhos. Gritei pela raiva de ter perdido o que foi tão meu, por ter raiva de ter perdido, por ainda me lembrar, por ainda desejar, por ter estagnado, por ter regredido. E aí vem a dor. Tão forte que queria arrancar um pedaço de mim mesma, quer queria bater em alguém com muita força, pra ver se aliviava um pouco da minha própria dor, tão forte que eu já nem sentia mais, eu já havia me transformado na dor.

Fui pra faculdade e me arrependi de ter ido. Sou sempre sorridente, alegre e saltitante, e obviamente as pessoas achariam que eu estaria no meu estado normal, e por isso sorriram pra mim, falavam comigo, contavam suas coisas, mas tudo que eu queria era gritar e sair dali correndo. E foi por isso que não assisti a palestra de Artes, eu não ia conseguir ouvir aquele moço falando de fotografia alemã, quando eu estava tão, tão...nem sei a palavra que pode definir. Quando chegamos a esse estado, não adianta, temos que parar um pouco, tentar tirar isso que está fazendo mal. Então eu fiquei conversando com meu amiguinho, e foi bom, chegamos a várias conclusões numa conversa mega viajante. Percebemos que sentar no chão ajuda a pensar, que faltar uma palestra de fotografia não é o fim do mundo, que é por momentos estressantes como esse que as pessoas bebem, que ignorar e fazer ciúmes são técnicas de sedução, que quando não se tem nada vale a pena arriscar, que se essa pessoa não te quer tem várias outras querendo, que muita gente fica em função de atrapalhar sua vida, que amigos virtuais podem ser mais fieis que amigos reais, que a vida é muito complicada, que sorrir nem sempre é uma coisa legal e que ter um amigo com quem tirar essas conclusões não tem preço.

Passado esse momento filosófico, percebi que havia uma outra coisa que estava causando a minha raiva. Na verdade, mais uma pessoa. E aí toda a raiva, a decepção, o incômodo que ela me fez passar veio de uma vez, e eu decidi que chega. Pra que continuar tentando ser cordial e boazinha com quem não faz o mesmo por você? Pra que continuar com algo que não mais te faz bem? E minha vontade de gritar e socar veio ainda mais forte. Percebi que aulas de boxe não seria uma má ideia na minha vida, pelo menos funciona nessas horas. Conclui que ignorar não é só técnica de sedução, pode ser tapa de luva, também. A essa altura do campeonato, ainda tive que juntar toda a paciência para ver duas aulas, mas que foram interessantes, consegui esquecer da minha raiva. Se concentrar em coisas complicadas é bom pra esquecer momentâneamente os problemas, alivia um pouco.

Cheguei em casa irritada, ainda bem que minha amiguinha divididora de lar é muito compreensiva e me ouviu reclamar, ainda não sei como ela conseguiu, porque nem eu estou aguentando o meu mau humor, e com certeza ninguém vai ler isso, não teriam paciência, mas estou num momento que nem ligo,não estou ligando nem pra mim mesma, não estou ligando pra nada. Hoje eu só quero ficar quietinha e tentar afastar de mim tudo que me faz ficar assim tão diferente e chateada. Quero manter as coisas boas, pra acordar amanhã e ver como o Rio de Janeiro é bonito, chegar na faculdade feliz, sorrir pras pessoas, ver graça nas coisas. Enquanto isso eu continuo com o meu mau humor e azedume. Tenho que parar de remoer as coisas,isso é um fato.
Yara Lopes

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fragmentos do espelho


Há alguns dias atrás eu tive um pequeno problema, passei mal na faculdade, fiquei meio dependente das pessoas me ajudarem. Apesar da dor que eu sentir e da problemada que causou pra todo mundo, foi um experiência muito interessante, me deu muitas coisas pra pensar. O Felipe logo me acodiu e mobilizou tanto pessoinhas da outra turma quanto uma das meninas qe mora comigo, ou seja, fez aquela confusão e eu fiquei morrendo de vergonha. Mas foi tão lindo, ver ele todo preocupado, ligando pras pessoas, me perguntando se eu estava bem, que remédio eu queria tomar e tudo mais, e o mais fofo de tudo foi ver as pessoas que ele estava chamando chegando, preocupadas comigo. Ficaram comigo o tempo todo, brigando pra me levar pro hospital(que eu não deixei, é claro), pegando na minha mão, me dando o ombro pra encostar, me chamando pra ir pra casa, me carregando nos braços até o táxi, comprando remédios, fazendo comida... Minha mamãe ficou super preocupada, achando que eu estava quase em perigo, doente e abandonada, mas foi totalmente o contrário. Eu me senti protegida, cuidada, em casa mesmo. E foi isso que me fez refletir sobre quem são as pessoas que estão mesmo ao seu lado, sobre como é demonstrado o amor e o que é um lar. Eu sinceramente tinha uma impressão mais negativa de cidade grande, até porque eu venho do interior, onde as pessoas todas se conhecem, os pais conhecem uns aos outros, onde você vai ao supermercado e a gerente pergunta se sua avó voltou de viagem. Aqui no Rio eu sabia que não teria nada disso, as pessoas não seriam minhas amigas logo de cara, você não deve sair sorrindo e abraçando todo mundo e nem dando bom dias(deu pra ver as caras estranhas quando eu fazia isso, até hoje o cara da banca de jornal deve achar que eu tenho probleminhas). Mas isso acabou fazendo com que eu pensasse que nesse lugar as pessoas eram de fato frias, só se importavam consigo mesmas e que eu não teria fortes laços. Morria de medo do que aconteceria se eu passasse mal aqui, quem iria cuidar de mim? Sem mamãe, sem papai, sem meus irmãos e sem minha melhoramigavizinhairmãamoreterno? Eu tinha medo de precisar de pessoas, olhar para todos os lados e não encontrar ninguém. Eu tinha medo de não encontrar calor humano, de ficar sozinha. Mas eu percebi que na vida, não precisa ser tudo 8 ou 80. Sim, existe intermediário mesmo quando não se parece, mesmo quando não se consegue explicar direito, ou demonstrar. As pessoas não precisam me abraçar o tempo inteiro e nem saber detalhes da família pra serem amigas e se preocuparem. Pessoas são diferentes, os lugares trazem costumes e modos de viver que muitas vezes chocam bastante, mas não é isso que vai mudar o sentimento, não é isso que vai impedir a criação de afeto, e isso é muito, muito maravilhoso. Nos lugares mais improváveis pode ser encontrado o que você mais procura, você acaba se identificando mais com pessoas que acabou de conhecer do que com outras com quem viveu a vida inteira, de uma hora pra outra enxergamos o que de fato nos completa, onde está o que pode nos fazer feliz. E esse lugar feliz não precisa ser aquele de sempre, familiar, fácil e confortável. Pode ser um ambiente ainda meio estranho, inexplorado, desconhecido e nada familiar, mas ainda assim com uma instantânea e mágica conexão com o seu interior. É como olhar pro outro e se reconhecer ali, como se antes você se olhasse num espelho embaçado e não reparava em todos os seus detalhes, até olhar pra esse espelho alternativo que é essa situação toda nova e ver um pedaço seu refletido, uma parte que talvez antes não tivesse sido descoberta, talvez não fosse tão importante, mas que agora faz toda a diferença. Estou tentando ver melhor esses meus detalhes que eu não estava enxergando no meu espelho embaçado do passado. Na verdade, estou vendo que meu espelho estava completamente sujo e distorcia um pouco o que eu achava que eu era, a imagem que era mostrada pra mim de mim mesma. E estou gostando do que estou vendo. Encontrei mais sentimento, mais espontaneidade, criatividade, humor e até inovação. Eu pensei que estava me recriando diante da situação nova, me adaptando ao lugar e ás pessoas. Estava errada. O tempo todo eu só estava deixando vir a tona o que já existia dentro de mim, eu estava limpando o meu espelho e mostrando um "eu" bem mais completo, mais real, que nem eu mesma conhecia. E foram essas pessoas que eu julgava frias e descompromissadas que me ajudaram a me ver melhor, foram elas que me deram apoio quando eu fraquejei, que riram comigo num momento engraçado, que me deram e me pediram um ombro pra chorar. Eu aprendi a confiar nessas pessoas e a ser uma confidente, eu me deixei fazer parte de um todo e esse todo já é parte de mim também. Rimos, choramos, passeamos, cozinhamos, conversamos, dormimos, ensinamos, brigamos, amamos, descobrimos, somos. Tudo muda e permanece quando simplesmente nos permitimos. Viver, experimentar, conhecer, ser. Criamos memórias que vão se costurando e formando um quadro bonito diante dos nossos olhos, algo que só tende a crescer que nos dá possibilidades. Cresceremos, venceremos, sonharemos, aprenderemos, teremos, seremos. Nada pode ser agora sem ter sido alguma coisa antes, sem poder ser num futuro. Tudo que existe agora teve um fiozinho que criou no passado e vai repercutir no futuro. E são pessas, lugares, momentos, atitudes e escolhas que vão formar e ter a chance de transformar tudo isso. Pro que foi, pro que é, pro que será. Estranhos se tornam família, uma selva se torna um lar. Eu sei, você deve estar lendo tudo isso e não entendendo nada, achando que nada fez sentido e que eu sou louca. É, talvez nada disso faça sentido mesmo, mas talvez faça. Talvez o mundo não faça sentido. Eu posso ser confusa, posso ser meio louca, posso ser estranha. Mas tenho tentado ser honesta comigo mesma, quero me descobrir. E nesse caminho encontrei muitas pessoas bem diferentes de mim, mas que de certa forma, eram fragmentos do meu espelho e me ajudaram a ver.

Yara Lopes

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que parece


Às vezes achamos que estamos prontos para as coisas, que somos maduros o suficiente pra dar o próximo passo, que teremos responsabilidade pra arcar com as consequências, que aceitaremos tudo aquilo em nome do crescimento pessoal, que não olharemos pra trás. Em boa parte das vezes não é bem isso que acontece, nos sentimos pequenos e fracos pra carregar uma carga tão pesada, suplicamos em segredo que alguém apareça e ofereça ajuda, temos vontade de voltar para aquele momento feliz em que tudo era mais fácil, queremos um colo, um consolo.
Mas o tempo trás oportunidades, escolhas e obrigações, temos de caminhar, precisamos seguir adiante. Quando passei no vestibular da UFRJ achei que não poderia ser mais feliz, eu finalmente ia realizar um sonho, possivelmente o maior deles. Quem não pensaria que é a coisa mais maravilhosa do mundo? Passar na faculdade dos seus sonhos, pra fazer o curso dos seus sonhos, e ainda de bônus morar na Cidade Maravilhosa. Parecia mesmo que seria um conto de fadas, eu não pensei nem duas vezes na hora de cancelar a matrícula da UFF, voltar pra Bahia e esperar feliz pro próximo semestre. Assim fiz, esperei alguns meses e a hora chegou. Hora de me mudar mais uma vez. Não achei que começar a tirar minhas coisas do armário fossem me balançar tanto, a imagem das malas espalhadas pelo quarto, da minha mãe enchendo os olhos de lágrimas toda vez que passava na porta e olhava aquela confusão de roupas e caixas, do meu pai que sempre dava um sorriso que não conseguia chegar aos olhos, da minha melhor amiga pulando toda aquela bagunça pra ficar num cantinho apertado da minha cama dizendo que ia sentir saudades, tudo começava a borrar minha cabeça e pesar meu coração. Mas eu não iria desistir por isso, já tinha passado por isso duas vezes, já deveria estar mais forte, sentir menos. Um por um eu fui me despedindo das pessoas mais importantes da minha vida, deixando pra trás o conforto e familiaridade da minha cidade, indo embora de casa e deixando um pedaço de mim.
Mas eu acreditava que tinha um futuro cheio de sol, nuvens brancas e colorido, provas, trabalhos e professores complicados, vitórias, tropeços e claro, mais vitórias. Cheguei no Rio com milhares de bolsas e com mamãe do lado. Conheci meu novo apartamento e as meninas que iriam morar comigo, minha nova família. Eu me senti sortuda, adorei o lugar e me identifiquei com as três meninas imediatamente, sabia que Deus estava cuidando de mim. Mamãe ficou comigo por mais alguns dias, ajeitou minhas coisas aqui, me deixou com tudo pronto pra começar a seguir minha nova vida. Só quando ela entrou naquele táxi pra voltar pra Bahia que eu percebi o que estava acontecendo, eu a partir daquele momento estava de fato por minha conta, completamente sozinha, a mais de 1000 km de casa. A palavra sozinha ressoava na minha cabeça e não me deixava pensar direito. Eu percebi que estava chorando e que o porteiro me olhava meio assustado.
Logo logo comecei a ir pra faculdade, participei do trote, tive meu cabelo destruído e pedi dinheiro na rua. Conheci muita gente e fiz amigos muito mais do que fantásticos, não posso reclamar. A ECO é exatamente o que eu esperava, claro que tem seus defeitos, mas me senti satisfeita, gostei bastante da maioria dos professores, e comecei a me descabelar com a quantidade de xérox e de trabalhos, tudo dentro do esperado. Me habituei a andar de ônibus e não reconhecer as ruas direito, a ouvir o "s" puxado dos cariocas e a ver o riso das pessoas ao ouvir o meu suposto sotaque(eu ainda teimo que não tenho sotaque). Tudo parece ir bem, esse apartamento já tem jeito de minha casa e ouvir a voz de mamãe e papai toda noite pelo telefone me contando tudo que tem acontecido por lá virou um hábito bom. Tudo parece bem. Até que eu fique sozinha e permita minha mente pensar em coisas que não devia. E aí o que parecia firme e seguro desaba bem em cima da minha cabeça. Eu não estou tão pronta e tão madura quanto achei, e definitivamente começo a olhar pra trás. Me lembro da minha cama e do meu colchão que já tinha o formato do meu corpo, da cama enorme da mamãe e do papai que era suficiente pra nós três quando eu tinha um pesadelo, do café da manhã na cama que mamãe me trazia enquanto assistíamos o "Bom Dia Brasil", da UDI pronta pra qualquer coisa a qualquer hora, da minha sobrinha bebê fofa que me abraçava e dizia que me amava, de estar no quarto e ver minha melhor amiga entrando e me contando as novidades, do meu pai me trazendo açaí a noite, da minha irmã e do meu amigo me trazendo músicas novas, da mamãe contando tudo que vai acontecer nos filmes, da Dani musa superior cogitando comigo sempre. Eu sinto falta de casa, do meu lar, do meu aconchego. As coisas estão complicadas, e eu não tenho ninguém pra me abraçar e dizer que me ama, eu estou tendo pesadelos e não tenho a cama enorme com mamãe me abraçando, eu fico sentada no meu quarto e ninguém aparece repentinamente pra me ver. Eu ouço uma boa música e não tenho a pessoa certa pra cantar junto, eu vejo um jogo do Santos e não vejo o papai vibrando e soltando fogos, eu pinto as minhas unhas e aquela chatinha do meu coração não surge pedindo pra eu pintar as dela também, eu arrumo o quarto e não tem nenhum bebê pra destruir tudo e depois pedir desculpas forçadas com aquele sorriso lindo. Eu tenho uma situação e não tenho a pessoa pra me dar colo, passar a mão no meu cabelo e analisar tudinho frase por frase. Eu fico com raiva e não posso gritar bem alto até quase explodir, tenho uma dor de estômago e não tem o vovô pra fazer um chá de boldo, chega o sábado e não tem requeijão e nem biscoito da feira na mesa do café da manhã, eu vou na rua e não tem um bom acarajé, e da farinha não dá nem pra comentar. As pessoas não te dão bom dia, não sorriem se não te conhecem. Tudo é diferente.
Eu sei, sei que tenho que olhar pelo lado positivo. É o que eu faço e o que me impede de pegar minhas malas e aparecer em casa. Tenho pessoas muito maravilhosas ao meu lado aqui e daqui a dois dias mamãe chega trazendo um pouco da Bahia pra mim(leia-se acarajé, requeijão, farinha carne de sol, biscoito da feira e claro, muito amor). Só tenho que continuar olhando pra frente, manter a mente ocupada, tentar não olhar pra trás. Preciso acreditar que sou madura o suficiente, que consigo lidar com tudo isso. Preciso acreditar no sol, nas flores e no clorido, nas aulas, nas vitórias. É bom ver o Cristo e o bondinho quando se olha pro lado, dá uma coisa esquisita na barriga. E o principal, quem sabe um dia papai e mamãe estarão sentados tomando café na cama enorme vendo o "Bom Dia Brasil" comigo, mas eu estarei do outro lado da tela, é claro... É só focar nisso, e tudo volta a parecer bem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O convite de Amanda-II


O sábado demorou demais a chegar, e Bruno nem se aguentava mais de ansiedade. Queria ver Amanda, adentrar naquele mundo tão desejado e misterioso. Teve vontade de contar pra alguém, pedir um conselho, saber como deveria se comportar diante de tal situação, dividir o momento com alguém. Sua primeira opção foi Fernando, seu melhor amigo desde sempre, passou com ele por todas as fases da vida, não havia segredos entre os dois. Pela primeira vez, no entanto, ele teve dúvidas e por fim decidiu guardar aquele momento só pra si. Apesar de o convite ter sido feito por ela, podia ser que tudo aquilo fosse apenas um simples convite para uma festinha de criança, sem nenhuma intenção adicional como ele gostaria, e não queria que o amigo também criasse falsas expectativas, muito menos que o consolasse depois de um possível fracasso. Temia não por alguma recriminação ou brincadeira, mas pela decepção do amigo, pela necessidade que seria criada depois de tentar tratá-lo de maneira diferenciada. Ele sabia que alguém poderia conhecê-lo na casa de Amanda, provavelmente outras pessoas da escola estariam lá, mas ele decidiu lidar com isso depois, no momento ele não iria contar a ninguém, nem mesmo à sua mãe, diria que iria a um aniversário, mas não especificaria nada.

Chegou até a casa sem dificuldades, o endereço estava bem explicado, não tinha como errar. Nem precisou ligar pra Amanda pra pedir direções, embora dentro dele formigasse a vontade de poder ouvir sua voz, mas ficou feliz por ao menos ter aqueles oito números, poderia ser muito útil algum dia. Logo que entrou na casa foi inundado por balões e músicas animadas, além de gritos e crianças correndo pra todo lado. Era bom estar ali, por várias razões. Bruno começo a adentar, esquadrinhando cada pedacinho do local, não só pra procurar Amanda, mas para aproveitar e conhecer sua casa, seu ambiente, os lugares onde ela passava grande parte do seu dia. Nas paredes e móveis reconhecia a menina em várias fases da vida, sempre linda e sorridente, claramente o orgulho da família. Estava distraído, olhando para uma Amanda bebê quando a versão crescida chegou por trás dele e lhe tapou os olhos com as mãos.

-Adivinha quem é...

Ele gostou de senti-la tão perto dele. Pôde identificar melhor o perfume doce que exalava dela, assim como ter perfeita consciência das mãos pequeninas, mornas e macias.

-Amanda?

-Ahh, você descobriu muito rápido-ela dizia enquanto retirava as mãos e ficava de frente pra Bruno. Será que sou assim tão óbvia?

-É meio difícil confundir sua voz-ele disse e sentiu que não pensou antes de abrir a boca, as palavras saíram do inconsciente, com certeza.

-Fico feliz que você tenha vindo, mesmo, Bruno.

-Claro que viria. Crianças são adoráveis.

-Só veio pelo meu irmão e seus amiguinhos, então?

Ele não acreditava que ela estava fazendo isso. Certo, ele era tímido e um pouco sem jeito pra coisas do coração, mas não era nenhum idiota. Estava na cara que Amanda estava com intenções que iam além da amizade. Ele não sabia quando e como isso acontecera, não se importava em tentar descobir.

-De maneira nenhuma. Tem muitas outras coisas interessantes nessa festa.

-Concordo, vamos então aproveitar o que meus pais prepararam. Gosta de algodão doce?

Ele não disse nada, apenas abriu seu maior sorriso e a seguiu. A festa estava realmente animada, e quantidade de doces era incrível. Os dois se divertiram bastante, ele até se esqueceu que não fora ele que a trouxera, na verdade ela era a anfitriã, apesar de dar atenção total a ele. Em meio as brincadeiras, mágicas, palhaços e muitos brigadeiros, Bruno conseguiu descobrir que ela gostava muito de praia, ouvia músicas no último volume, sonhava em morar em uma cidade maior e não sabia nada de cozinha. Ele também contou um pouco de si mesmo, ela parecia interessada. Percebeu que algumas pessoas repararam a repentina amizade dos dois, principalmente algumas das amigas delas, que talvez sentissem apenas ciúmes por nunca receberam atenção dela total ou quisessem um assunto novo pra uma boa fofoca na segunda, afinal, notícias relacionadas a Amanda eram sempre populares na escola. Até mesmo a mãe dela notou algo diferente, de vez em quando passava por perto, dava uma boa espiada, mas nada dizia, parecia ser uma pessoa simpática e discreta. Nada disso o preocupou, afinal, ele estava tendo tudo que sempre imaginara, de uma forma natural e não planejada. Como ele poderia se esquecer daquele dia? O sol estava forte, poucas nuvens no céu, ventava, causando uma temperatura agradável, e havia ela, que tonaria qualquer dia o mais perfeito.

O tempo passou voando, quando ele foi se dar conta já era tarde, a maioria das pessoas já tinham ido embora, não se ouviam mais os gritos das crianças e nem o cheiro forte de pipoca amanteigada. A contragosto, Bruno disse a si mesmo que precisava ir embora. A mãe já estaria preocupada, e também não era de bom tom ser o último a sair.

-Está tarde, Amanda. Preciso ir embora.

-É, o tempo passou muito rápido hoje. Você vai sozinho, não é perigoso?

-Não, não há perigo algum. Moro perto daqui.

-Bom, de qualquer forma, tome cuidado.

Os dois foram caminhando para a porta num silêncio que nada tinha de contrangedor ou desagradável. Era bom ouvir o vento sibilando e quatro pés andando devagar. Ambos sabiam o qual poderia ser o próximo passo. Talvez por isso era difícil para de encarar o chão. Mas o portão chegou, não havia mais pra onde caminhar, os dois tiveram que se encarar. Quando Bruno olhou pra ela perdeu todo medo e ansiedade. Ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto, e seus olhos perfuravam os seus de uma maneira impressionante. Ele se aproximou devagar, esperando pra ver a reação dela. Amanda se aproximou também, e sorriu. Bruno ficou mais próximo, seus corpos se afastavam apenas por um leve tremor do vento, que rapidamente sumiu, unindo os dois num longo abraço. Ele achava que não iria querer soltar aquele abraço por nada no mundo, mas imediatamente se lembrou de uma exceção. Virou o rosto devagar e segurou aquele rosto de anjo que estava em sua frente. Sem mais delongas, beijou-a. Teve o gosto de algodão doce, foi quente e breve demais para satisfazer a vontade que crescia. Foi a vez de Amanda se afastar, ela parecia um pouco encabulada.

-Obrigada por ter vindo, Bruno.

-Não precisa me agradecer por nada.

-Você é um menino diferente dos outros. É gentil.

-E você é maravilhosa.

-Espero te ver de novo, logo. É tudo tão diferente fora da escola.

-Pode ser mais igual a isso daqui pra frente.

-Eu gosto dessa ideia. Muito.

-Dorme com Deus, anjo.

-Você também.

Bruno foi embora, mal percebia por onde andava. Sua cabeça estava longe, e seu coração batia acelerado, se sentia leve. Só conseguia pensar naquela menina linda e no gosto daquele beijo, tudo se misturando e formando uma imagem diferente e intrigante. Queria muito vê-la de novo em breve, brevíssimo.


[Continua]

Yara Lopes

sábado, 3 de julho de 2010

O convite de Amanda- I


Bruno sempre a observava de longe, numa cobiça um tanto quanto desesperançada. Ela era linda, cada pedacinho dela o fazia ter vontade de olhar mais, de encontrar uma outra parte a ser admirada. Amanda era morena, baixinha, os cabelos longos e negros caiam como uma cortina ao redor do rosto angelical, seu sorriso era capaz de derreter até a ele, sempre tão fechado, com seus sentimentos guardados pra si mesmo. Ao mesmo tempo que desejava poder estar perto dela, segurar suas mãos, fazer um carinho em seus cabelos, se assustava e desejava ficar invisível quando a via se aproximar. Nem ele entendia muito bem o que acontecia, mas toda aquele ar de felicidade e confiança, todas aquelas pessoas que sempre andavam ao redor dela, todo o bando de meninas que queriam ser como ela... Às vezes parecia muito mais do que ele poderia suportar. Se perguntava se o desejo por ela seria maior do que o seu medo, mas logo o pensamento voava com o vento, ele não acreditava que poderia ter uma chance.

Na sala de aula, ele reparava nos movimentos dela, muitas vezes desatenta, mais preocupada com a simetria das unhas e a perfeição da maquiagem do que com a matéria que o professor colocava na lousa, passava bilhetinhos para as amigas e lia revistas de celebridade embaixo da mesa. Ele não entendia como ela conseguira ser aprovada todos esses anos, o colégio era um tanto quanto rígido, e a não ser que ela fosse super dotada, não sabia como ela absorvia a matéria. Essa era apenas umas das coisas que ele desconhecia, e havia mais um universo inteiro de coisas sobre ela, sua personalidade, seus gostos, seus sonhos, seu jeito, cada detalhe que formava a Amanda que ele era doido pra descobrir. Será que ela gostava de gatos ou cachorros? Gostava de flores? Praia ou campo? Refrigerante ou suco? Frio ou calor? Carta ou email? A cada opção uma teia ia se formando na cabeça dele, cheia de cenas que só existiam no imaginário e longos diálogos reveladores. Imaginava se um dia aquelas cenas chegariam perto de acontecer e quais seriam as suas escolhas, suas perguntas e respostas.

O ano letivo foi passando, eram frequentes as divagações de Bruno em relação a Amanda, mas nada mudara no plano real, ele nunca tentara se aproximar, ela não parecia perceber que ele estava por perto. Se essa situação não tivesse mudado, a história dos dois não existiria, muita coisa seria diferente. No entanto, o destino cumpriu o seu papel, fez os dois caminhos se intercalarem, formando um só.

O sinal da última aula soou, e na sala reinou a confusão de sempre. Dezenas de adolescentes falavam ao mesmo tempo, combinando encontros do fim de semana, comentando a chegada das provas e das chuvas que surpreendiam. Cadeiras e mesas rangiam ao serem arrastadas, cadernos e livros fechados, tudo enfiado na mochila às pressas. Bruno, como sempre, continuava em seu lugar, arrumando suas coisas sem pressa, anotando o que tinha pro dever de casa-nem tanto por ele, mas porque toda tarde o amigo Rui ligava para saber quais eram as atividades- e esperando a confusão de fim de aula diminuir um pouco. Estava acostumado a ficar com a sala vazia e não se importava com isso. Jamais esperava que quando levantasse os olhos de seus materiais encontraria olhos tão doces esperando por ele, menos ainda acompanhados daquele sorriso tão aberto. Amanda estava ali, e obviamente, já que não havia mais ninguém na sala, esperava por ele.

-Oi Bruno-ela disse de uma jeito leve e despreocupado.

-Oi Amanda-a saudação dele foi um pouco mais tensa, revelando sua confusão com aquele encontro.

-Você sempre fica aqui escondido do resto das pessoas, é?-ela continuava num tom que oscilava entre o amigável e o zombeteiro.

-Não gosto muito de andar nessa confusão de gente, e além disso, não estou com essa pressa toda de deixar a escola-ele dizia tentando usar o pouco que sabia sobre linguagem corporal pra ver através das palavras de Amanda. E você, o que faz por aqui?

-Não tá na cara, Bruno?

-Hum, não.

-Vim falar com você, ué. Não posso?

-Claro que pode, só não é algo muito comum. Na verdade, nunca aconteceu.

-Bom, dizem que sempre há uma primeira vez.

-É verdade.

O silêncio reinou por alguns instantes, causando uma situação um pouco constrangedora. Bruno, principalmente, não conseguia ficar a vontade. Não conseguia pensar em algo pra dizer, nem pra onde olhar.

-Vim aqui, na verdade, pra saber se você tem alguma coisa pra fazer esse fim de semana. Tem?

-É, se eu disser que não, o que você vai dizer?

-É aniversário do meu irmãozinho, minha mãe vai fazer uma festinha, me pediu pra chamar alguns colegas da escola.

-E você pensou em mim?

-É, sei que você não se enturma muito, nunca te vejo com o pessoal da escola. Mas como eu já disse, tudo tem uma primeira vez. E aí, você vem?-ela dizia aquilo com um toque de dúvida e esperança.

-É...-como ele poderia dizer não? Vou sim, é claro.

-Que bom! Olha,-ela estendi um papelzinho dobrado várias vezes- aqui está meu endereço e meu telefone. Tá tudo certinho, mas qualquer coisa, pode ligar.

-Tudo bem.

-Até amanhã, Bruno.

-Até.

Bruno assitiu calado enquanto enquanto Amanda se virava e saía da sala, deixando-o com um sorriso meio bobo e com a mente fervilhando. Apesar de todo choque, ele não podia esperar pela chegada do dia seguinte.


[Continua]

Yara Lopes

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A notícia


Clara parava todos os dias para olhar as ruas pela janela. Acordava e, ainda sonolenta, tomava um xícara de café observando aquelas pessoas, imaginando o que estaria por trás daquela pressa e das feições preocupadas. Quem era de verdade cada uma delas?

Professora de piano, já com seus 32 anos e filha única, Clara viva sozinha naquele apartamento desde a morte dos pais num acidente de carro há 10 anos atrás. A pouca família que tinha morava muito longe, quase não mantinham contato, o máximo que faziam era mandar um cartão de "Feliz Natal" ou dar um telefonema no aniversário. Também não tinha amigos. As lembranças dos dias leves e felizes da faculdade, repletos de festas e pessoas em casa o tempo todo pareciam agora apenas um borrão, faziam parte de uma mulher e de uma vida totalmente diferentes, talvez num outro universo, talvez nem mesmo tivesse existido. Ela tentava apagar da sua memória o ponto em que tudo mudou, o momento que quebrou todos os seus sentidos, que a fez se afastar de tudo o que ela foi, de tudo que seria. Mas a memória é traiçoeira, e as lembranças não desapareciam como ela desejavam, faziam sua visita de quando em quando, trazendo com elas uma dor que dilacerava seu coração e o desejo de também ter ido embora.

Tudo acontecera há seis anos atrás, ela tinha se formado há pouco tempo, fora a aluna mais brilhante da história da Universidade, já tinha vários convites para contratos e turnês. Não havia uma pessoa que não se emocionasse ao ouvir a melodia que seus dedos criavam ao tocar o piano. Parecia mesmo mágica. Ninguém diria que alguma coisa pudesse dar errado pra ela, sua vida estava toda traçada, seu futuro era promissor, não havia espaço pra nada além de muita felicidade. Pra completar tudo que ela sonhara pra si mesma, estava às vesperas de seu casamento, e por mais adolescente que pudesse parecer, ele era o amor de sua vida. Tiago era seu parceiro ideal, os dois esbanjavam amor, estavam juntos desde o começo da faculdade e desde então almejavam juntar definitivamente seus caminhos.

Clara fizera questão de continuar morando no apartamento que os pais deixaram, tinha espaço suficiente e já era mobiliado. Além disso muito da história dos dois tinha sido construída dentro daqueles cômodos, testemunhada por aquelas paredes, não existia um lugar mais apropriado para começarem o resto das vidas. Tiago achava justo, e gostava da ideia, já que era muito complicado encontrar um bom lugar naquela vizinhança. Fizeram umas mudanças pra dar uma cara mais de casados, decoraram de um jeito que agradasse aos dois, tudo estava pronto para a próxima semana. A cerimônia seria linda, pequena e ao ar livre, teriam a lua de mel em uma desconhecida e gelada cidadezinha. Nada muito chamativo ou glamouroso, exatamente como eles sempre imaginaram.

Na véspera do grande dia, Clara decidiu que queria fazer uma surpresa, mudar um pouco as tradições. Ela chegaria primeiro, num carro simples, e ele chegaria depois na limusine de noiva. Tiago não queria aceitar a ideia a princípio, queria que ela tivesse tudo que deveria ter, todo o conforto, todo o brilho matrimonial. Mas se ela fosse como todas as outras, eles não teriam se apaixonado. Ela sempre fora diferente, queria fazer suas próprias regras e tradições, queria inovar, fazer do seu jeito. E foi por isso que ele aceitou a troca de carros. Foi por isso que ela nunca se perdoou.

Ela esperava por ele, simplesmente deslumbrante vestida de branco, perdida em seu próprio conto de fadas. Ele estava demorando, mas deveria ser pra dar mais graça ao teatrinho que montaram, afinal, a noiva sempre se atrasa. A casinha de cristal e sonhos que a embalava foi retirada de uma vez quando aquele moço chegou desesperado, gritando alarmadamente, criando um alvoroço gigantesco. O carro estava com um problema, acontecera um acidente, Tiago morreu na hora, sem nenhuma chance. Clara não podia acreditar, e tentava a todo momento acordar de um pesadelo, ver que aquilo não estava acontecendo. Aqueles dias foram como um filme de terror, e ao contrário de muita gente que não consegue se lembrar de nada, tudo ficou muito gravado em sua mente, cada detalhe, cada segundo. O carro destruído, o corpo ensaguentado do amado, as flores no velório, a chuva fina e insistente no enterro, os dias sem comer, ouvindo sempre a mesma música, agarrada à velha camisa que ele usava pra dormir...

Desde aquela época, Clara desistiu de tudo. Saía minimamente de casa, falava só o estritamente necessário. Os recados na secretária eletrônica começaram a diminuir, os amigos começaram a desistir de tentar tirá-la daquele estado, até ela ficar completamente sozinha. Era para ela ter morrido e não ele, e por isso ela jamais se perdoaria, jamais voltaria a viver como viveu, não fazia mais sentido.

Ela continuava olhando pela janela, segurando a sua xícara de café, tentando buscar naquela multidão alguma resposta, alguma explicação pra uma dúvida que nem ela sabia formular. Tudo que ela via, porém, eram pessoas apressadas, desperdiçando, talvez, a última chance de viver um pouquinho mais de seu sonho.

Yara Lopes

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O pedido


O dia dos namorados passara, mas Júlia continuava vivendo aquele momentos todos os dias, às vezes mais de uma vez por dia. Mas suas lembranças não traziam a beleza e o romantismo que em geral acompanham o 12 de junho, e era esse o motivo de sua tristeza.

Ela vivia um clichê, e apesar de já ter lido e visto muita coisa sobre o assunto, simplesmente não conseguia lidar com a situação. Fernando era seu amigo, desde que ela se mudara de escola no Ensino Médio, ela nunca se esqueceria de como ele foi gentil e a ajudou na adaptação com a escola e as pessoas novas. Agora ela já estavam no 3° perído da faculdade, e para todos os efeitos, ainda eram amigos. Mas, obviamente, não para Júlia. Ela nunca o vira como amigo, e também nunca teve a coragem de dizer o contrário, nunca se declarou, nunca contou a ninguém. Ela sabia que se dissesse que amava um amigo em segredo, o conselho seria contar a ele, talvez ele sentisse o mesmo, muitas histórias lindas surgiam de grandes amizades, todas aquelas coisas que todo mundo sempre diz, inclusive ela. Mas o seu caso era bem mais complicado. Ele estava interessado em outra pessoa, jamais teria olhos pra uma amiga.

Ainda com uma terceira pessoa protagonizando uma história que poderia ser dela, poderia existir uma chance, nunca se sabe, a esperança é a última que morre. Não, não haveria chance pra ela. Fernando namorava Ana, sua irmã gêmea. Logo que se mudaram pra escola nova, ambas se apaixonaram por aquele moreno tão lido e simpático, mas o coração dele bateu mais forte por apenas uma delas. Apesar de gêmeas, as irmãs eram totalmente diferentes. Júlia gostava de música e cinema, era caseira e tímida, enquanto Ana gostava de festas e era totalmente desenrolada. Além disso Júlia mantinha a cor negra original dos cabelos, sempre longos e com uma franja jogada para o lado, já Ana tinha os cabelos tingidos de um forte vermelho e usava bem curto, num estilo meio rebelde. E com todas as diferenças que tinham, elas se davam muito bem, eram companheiras, se amava e se defendiam. E era por isso que Júlia nada pôde dizer quando depois de uma semana de aulas confessou que tinha ficado com o Fernando, e que estavam apaixonados. A irmã estava feliz como há muito não estivera, e ela não teria coragem de destruir aquele sorriso, mesmo que isso custasse o seu próprio. Ela acreditava que o então amor proibido iria passar, que tudo ficaria bem novamente.

Ela não tinha noção de quão errada estava. Todos os dias, quando via o casal tão apaixonado, sentia raiva e ciúmes, queria estar no lugar da irmã. No mesmo instante, começava a se sentir culpada, como poderia se sentir triste quando via tanta felicidade? Tudo isso amargava dentro de seu coração e a impedia de ao menos tentar se apaixonar novamente, ficando sempre a margem de uma história impossível. Era ela quem aconselhava tanto a irmã quanto o Fernando, ajudava nas escolhas de presentes, era o mensageiro dos pedidos de desculpas e quem ouvia as juras de amor. Ela passava por tudo e sempre mostrava um sorriso, nunca fora capaz de dar um conselho ruim, de contar uma mentira, de tentar destruir o namoro dos dois. Apesar do que sentia, era sua irmã e seu melhor amigo, ela os amava, queria que fossem felizes, e lutava para ignorar aquela vozinha que lhe dizia que nunca se sabia o dia de amanhã e que se ele ficasse livre era ela quem estaria ali para servir de consolo.

Tudo mudou um pouco antes do dia dos namorados, os dois já tinham 4 anos de namoro, tudo parecia muito bem. Ana chegou em casa abalada, disse que não aguentava mais esconder, precisava falar pra alguém ou acabaria explodindo. Júlia ficou sem fala quando ouviu que a irmã estava tendo um caso com outro homem. Era a primeira vez que ela via desonestidade na relação dos dois, e ela não sabia o que fazer. Não sabia se deveria se calar em apoio a irmã ou contar a verdade ao seu melhor amigo. Felizmente, Ana se mostrou arrependida, disse que terminaria tudo com o outro, mas isso não mudava o que tinha acontecido, tudo estava confuso, tudo parecia mudar. Júlia pensou bem, deixou de lado o amor que sentia pelo amigo, e ficou quieta, era melhor os dois se resolverem, ela não tinha nada que interferir. Se alguém tinha de contar seria a irmã, a decisão era só dela.

Não foi necessária a ajuda de Júlia para que Fernando descobrisse o que acontecia tão perto dele. Caio, o outro, não aceitou a separação, e como não tinha nada a perder, contou tudo pra Fernando, mesmo que isso não trouxesse a Ana de volta, pelo menos ela não ficaria com o homem que amava. Júlia pensou que seria o fim de tudo, uma traição assim era complicada. Deveria ela ficar feliz ou arrasada? Teria ela chance com ele depois disso? Teria ela coragem de tentar? Será que ele a amaria? Será que a irmã a perdoaria?

Tantas perguntas sem nenhuma resposta. Tantas vontades, nenhuma certeza. Ela se aquietou, resolveu tentar não pensar nisso tudo pra variar, deixar a vida seguir seu rumo natural, esperar pelo que o destino reservasse para ela. Foi exatamente o que ela fez, e o destino mostrou os seus planos, doces e cruéis ao mesmo tempo. Fernando ligou pra ela, disse que precisava vê-la com urgência, falar de um assunto que ha muito tempo gostaria de falar, mas nunca tivera coragem. Por mais que ela tentasse, não conseguia tirar aquele calor no coração bem típico do nascer de uma esperança, e ansiedade não conseguia parar de crescer.

Quando chegou no lugar combinado, o coração dela parecia que tinha vontade própria, ela tinha certeza de que as pessoas conseguiam ouvi-lo batendo quase como um tambor. E então ele disse o motivo de pedir para ela encontrar com ele. Fernando estava disposto a perdoar tudo o que a Ana fizera, queria a ajuda de Júlia para comprar um anel de noivado, e queria também que fosse sua madrinha.

Tudo que aconteceu depois daquilo foi um borrão. Ele fez o pedido no dia dos namorados, Ana aceitou, tudo estava definitivamente acabado. Ela seria madrinha e testemunha daquela história feliz, entre duas pessoas que amava demais,que jamais seria sua.

Yara Lopes

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Carpe Diem



Tudo aconteceu de forma muito rápida. Carlos procurava o local aonde tinha estacionado o carro esta manhã, estava meio distante do escritório, o lugar estava ficando cheio demais e qualquer atraso(como o cometido por ele hoje), implicava em perda da vaga. Dois homens chegaram repentinamente, cercando-o na viela onde seu carro estava. Era um assalto. Com seu gênio explosivo, seu instinto foi de reagir, e foi esse seu maior erro. Em um instante, ele pensava em como se livrar dos bandidos e no outro caia ao chão, sangrando e tudo virou um borrão.

Carlos achava que sua vida seguia o estilo carpe diem, vivendo um dia de cada vez, aproveitando as oportunidades que apareciam, sem pensar muito no futuro. A verdade não era bem essa, e ele tinha medo de admitir pra si mesmo. Formou-se em Arquitetura e conseguiu um bom emprego, preocupava-se com a estabilidade financeira que seus pais soharam tanto que ele conseguisse. Queria uma velhice confortável, sem dificuldades. Mas ele evitava pensar por esse lado, não gostava nada da ideia de envelhecer. E é por isso que para as pessoas, ele sempre dizia que trabalhava bastante para garantir sua boa casa, festas em fim de semana e férias em lugares exóticos. Nunca mencionava o que esperava dos anos que iriam chegar e calava sempre que os amigos entravam na conversa de família, casamento e filhos. Às vezes se perguntava sobre tudo isso. Estaria errado¿ Deveria pensar de outra maneira¿ Bastava olhar no espelho para todas essas indagações irem embora. Ele era bonito e jovem, muito jovem, não precisava pensar nisso agora. Ainda teria muito tempo pela frente.

A parte mais difícil para Carlos era Luisa. Ele sempre a achou linda e por mais que tentasse resistir, era completamente apaixonado por ela. Uma velha amiga, colega da faculdade, que, por ironia do destino, conseguiu um emprego no mesmo escritório que ele. Todo mundo sabia que havia alguma coisa entre os dois, quando estavam juntos, havia um tensão tão substancial no ar, que era quase possível segurar entre as mãos. No entanto, ninguém nunca teve a coragem de tocar no assunto.

A primeira vez que ele a viu foi quase como mágica. Ela estava sentada com um grupo de amigas perto do lago, com um sorriso que seria capaz de alegrar o campus inteiro. Naquele minuto, nada além dela parecia ter vida ou cor. Ele, obviamente, jurou nunca dizer a ninguém que pensava nela daquela forma, parecendo um filme brega de adolescente ou uma história de príncipes e princesas. Não, ele deixaria aquilo o mais escondido possível dentro dele, admitir só faria disso uma coisa real, e ele tentava fazer parecer que não era.

-Na verdade, isso foi só uma produção da minha mente super criativa-ele não se cansava de repetir. Romances existem pra os que são idiotas o suficiente para acreditar. Não para mim. Não no auge da minha juventude.

Desde então ele fazia questão de mostrar uma imagem de garanhão na faculdade, principalmente pra Luisa. Ficava com tantas quantas conseguisse, várias em uma mesma noite. Não precisava conhecer, nem pegar o telefone, muitas vezes até o nome era descartado. A chave era aproveitar o momento, e, claro, não se ligar a ninguém. E toda vez que ele começava e sentir um pouquinho de vazio dentro dele, de solidão, ele saia, bebia um pouco, e conseguia a companhia necessária para uma noite. O dia seguinte, bom, estava longe demais pra ser uma preocupação. Ele deixaria o Carlos do futuro lidar com isso. Esse esquema perdurou toda a faculdade e, ele não tinha intenções de parar.

No hospital, Carlos começou a voltar a sua consciência. Mas tudo ainda era muito complicado, não sabia se estava sonhando, pensando, ou se na verdade estava morrendo. Pensava no que tinha feito em seus 31 anos de vida, as felicidades, as conquistas, as vitórias. Tinha dado muito orgulho aos pais na vida profissional, alguns de seus projetos foram aprovados e era emocionante poder ver o resultado, as casas e prédios bem reais ali na sua frente. E foi com tristeza que ele percebeu que aquelas construções, frias e inanimadas, eram as únicas coisas reais em sua vida. Não tinha amigos de verdade, pois não se abria de verdade pra ninguém, e sim companheiros de farra, que iam e vinham de acordo com a programação da semana. Não tinha uma companheira para amar, para compartilhar seus momentos, para apoiar. Tantas mulheres passaram em sua vida, todas elas sem nenhum significado. Não tinha e concluia que não teria uma família, ele nunca abrira espaço pra isso. Pensava em Luisa. Em como ela era prestativa e inteligente, sempre inovadora, cheia de criatividade. Era também engraçada, extremamente teimosa e orgulhosa. Lembrava de como as sombrancelhas dela se uniam quando se preocupava, nas covinhas que apareciam quando abria aquele sorriso iluminado e na mania de enrolar as pontas dos cabelos nos dedos enquanto pensava em alguma coisa. Recentemente ela havia tatuado justamente as palavras carpe diem na nuca. Disse no escritório que não se devia deixar passar nada do que tivesse vontade de fazer, nunca se sabe se haveria uma outra chance de fazê-lo, o que nos espera no dia seguinte.

Imerso nesses pensamentos ele sentiu um aperto em sua mão. Com esforço conseguiu abrir os olhos e econtrar ao seu lado tudo que intimamente sempre desejou.

-Ei. Você me deu um susto-Luisa falava com a voz trêmula e os olhos estavam vermelhos. Tente dormir mais um pouco.

-Eu te amo, Luisa.

Ele não sabia se acordaria novamente, se sentia fraco e cansado. Mas ao fechar os olhos, e sentir os lábios dela nos dele leve e docemente, ele sabia que terminava aquele dia sem deixar nada pra trás, ele finalmente conseguia fazer tudo o que desejava.

Yara Lopes

terça-feira, 1 de junho de 2010

Um sábado a noite


Bom, tive a maior surpresa ao entrar no msn hoje e receber uma mensagem de quando eu estava offline. Um amigo precioso me deixou um presente sem nem saber, um texto maravilhoso, que não posso deixar de compartilhar. Desde já agradeço a ele pelas ideias maravilhosas, e por ser uma pessoa tão brilhante e importante pra mim.

"Anonimamente eu me desconheço. Nesses momentos eu creio em alma, mas creio nela separada da minha carne. Perco minha identidade, e não sei, sinceramente, onde a maldita foi enfiar-se.
Os momentos sós revelam os fracos. Humpf! Todos são fracos. E tudo isso por causa de um sábado sozinho. Não, na verdade, tudo isso é porque, não importa o que se faça, é cíclico, eternamente cíclico.
São cinquenta e duas noites de um sábado em cada ano da minha vida que não sei quando acabará. Podem ser outros lotes de cinquenta ou apenas mais um. Será essa a graça da vida? Viver sem saber quando morrer. Ou a graça talvez seja que a única certeza da vida, que é a morte, é totalmente desorganizada. Ela quebra todas as regras.
Podemos planejar até o sexo casual. No elevador, na cabide de roupa, no taxi.
Isso que é covardia, ter medo de chegar na garota que você gosta, ter medo de dirigir. É incrível como o medo é apenas planejamento. O medo não é de chegar na garota, o medo é de perder o planejamento que inconscientemente é feito. Como pode-se pensar em casamento à primeira vista????
Então, se olharmos que a morte é a desorganização e a vida é uma estrutura montada, a vida normal que vale a pena, a vida sem rotina, a vida sem medo, é muito próxima da morte. A morte torna-se, então, apenas mais um fato. Fato como ir ao banheiro e mandar toda a lazanha que te deu tanto trabalho pra fazer, embora. É isso. Decepção. A decepção é estranhamente gloriosa. É a decepção que te faz ter prazer no prazer. Vida leva decepção, que leva à morte, ou não...
Um sábado sozinho é extremamente angustiante.
É horrível você pensar que tem 80 anos pra virar adubo, e tu faz de tudo pra virar o adubo de pior qualidade. Olha pras bobeiras que você faz e se enraivece, porque não faz nada pra mudar. Tu prende-se a tolices, a babaquices. Tu queres ser a melhor pessoa para os outros, e esquece que quando erra, é tu que se ferra. Não é que ser o melhor pra tu mesmo não é egoísmo ou muito Narcisismo. Porque, pensa... Não sei."

Nem tem muito o que falar sobre isso né? Dá pra fazer refletir bastante...

Yara Lopes

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Gênio da lâmpada


Sonhos. O que seria de nós, seres humanos, sem eles?
Acredito que o desejo por coisas que nos deixam felizes nasce com cada pessoa, não é algo que tenha que se aprender. Nem é um simples fruto da sociedade capitalista na qual vivemos, pois nem sempre a ambição é por algo material, algo que se possa comprar. Além disso, muitas vezes a realização das coisas que queremos depende não só de nossas ações, mas da colaboração de outras pessoas, o que torna tudo ainda mais complicado.
Alguns dos meus sonhos permaneceram comigo por muito tempo, vem desde a época que eu era muito miudinha até hoje(não que eu seja realmente algo tão maior que miudinha). Sempre quis ser jornalista e escrever as minhas ideias para muitas pessoas lerem, encontrar um príncipe que me amasse, ter meus próprios bebês, tocar piano e ter minah própria biblioteca. Mas desde a época em que eu almejava isso pra minha vida, eu também queria coisas menores e que também já passaram. Eu queria cada barbie que era lançada(apesar de destruir todas assim que ganhava, pequenos acidentes como cortes de cabelos e pernas quebradas), queria ter o cabelo igual o da Maria Joaquina de Carrocel(e para isso fazia minha mãe pentear o meu todos os dias com aquele topete horroroso) e queria saber dançar quadrilha direitinho.
Com o passar dos anos as coisas vão mudando, assim como muitas de nossas vontades. Obviamente que comigo não seria diferente. A paixão pelas barbies acabou sendo substituída pelos ursos de pelúcia e posteriormente por bolsas de bichinhos, o cabelos seria bom o suficiente contanto que ficasse no lugar e não demorasse tanto pra arrumar, e a quadrilha, bem, eu continuei tentando, mas fui obrigada a desistir por motivos de força maior(leia-se não saber fazer o patinho voou). Comecei a querer coisas diferentes, ás vezes esses desejos mudavam até rápido demais. Influência de amigos, bandas, novelas... Alguns tão simples, outros completamente surreais.
Eu observo as pessoas e ás vezes me pergunto, o que elas pediriam se pudessem ter um desejo antendido, como aqueles gênios da lâmpada que aparecem nos desenhos animados. Talvez alguns pedissem muito dinheiro, pra não ter de se preocupar com o sustento pelo resto da vida, outros podem pedir poder sobre muitas pessoas, quem sabe a cura de alguma doença maligna ou uma juventude prolongada? Podem ainda existir pedidos de sabedoria, conhecimento, sucesso, amor e prosperidade. O geral que as pessoas desejam.
O problema é que nem sempre o que achamos ser o necessário para nos deixar felizes o é. Temos que saber lidar com as coisas que recebemos, aproveitá-las e fazer delas a real felicidade. Às vezes tudo isso que gostaríamos de ter poderia ser facilmente arranjado, se olhassemos de fato pra nós mesmos e pras pessoas que fazem parte de nossas vidas, pra todas as nossas chances e oportunidades.
Já aconteceu de você ter tudo o que mais queria pra você e não ter consciência disso? Não aproveita o suficiente, não cuida como deveria e não agradece pelo presente recebido? Bom, essa falta de percepção pode gerar a perda do que você tem. É como se você ganhasse na loteria e não se desse conta, então alguém toma o prêmio de você. E só aí você percebe o quanto perdeu.
É por isso que temos de parar de ficar pensando no que poderia ser, no quanto você seria feliz se tivesse isso ou aquilo, como se esperasse que as coisas acontecessem por si só, sem qualquer ajuda sua. É importante notar que os nosso sonhos podem estar mais próximos de nós do que pensamos, por mais que isso pareça clichê. O caso é que às vezes demora pra saber o que é seu sonho real, o que realmente se deseja. Não precisamos de um gênio da lâmpada, nem de um passe de mágica. Cada um tem o poder de alcançar o que precisa. Pode ser que tudo dependa apenas de uma nova chance e da possibilidade de recomeçar do zero.

Yara Lopes

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Você já sorriu hoje?




Tantas coisas podem ser mudadas por um sorriso. Você já parou pra pensar nisso?
Uma pessoa que já chegam em algum lugar, seja na escola, no trabalho ou na casa de alguém, sorrindo traz consigo uma energia muito boa, que na hora ilumina quem estiver presente. O começo de um dia pode ser bem melhor com a alegria que brota num simples sorrir. Pode ser que o dia não esteja bom, que você esteja sofrendo, que os problemas estejam realmente grandes. E com isso vem o mau-humor, a raiva, o jeito rabugento de ser.
Mas, as outras pessoas também podem ter seus problemas, seus sofrimentos e suas complicações. E assim como você elas tem o direito de estarem com a cara fechada, rabugentas. Imagine só então, se todas as pessoas resolverem externar os seus problemas pessoais e agirem de acordo com as partes ruins da sua vida? Todo mundo viveria amargo, ranzinza, triste e com um semblante tenebroso. O dia-a-dia se tornaria insuportável. O mundo seria um lugar bem mais difícil para se viver.
Mas nada disso precisa acontecer. Não adianta ficar se lamentando, vivendo o sofrimento, querendo que as pessoas tenham piedade de você. Como uma criança que cai e se machuca, mas ninguém vê, e fica ali sentindo pena de si mesma. O importante é entender que nem sempre somos aquilo que transparecemos ser, mas, se tentarmos mostrar as nossas partes boas, tentarmos ser felizes, nos satisfazer com coisas pequenas, talvez o nosso interior também seja tomado só por esses sentimentos melhores, e nos tornemos seres humanos melhores. Não digo para sermos falsos, escondermos nossos defeitos, escondermos quem somos. Isso é falsidade. O que eu proponho é otimismo, ânimo, vontade de mudar.
Eu já fiz o meu teste, hoje mesmo. Acordei com um sorrisão, sem precisar de um grande motivo pa isso, e minha mãe já ficou toda feliz. Espere, eu tenho um grande motivo, na verdade já falei dois. Eu estou viva e eu tenho uma mãe, também tenho um pai, uma casa, uma família, amigos... Já não são motivos suficientes? Distribui sorrisos hoje por onde passei, para quem conhecia e para quem não conhecia também. Muitos se assustaram, outros fingiram que não me viram, mas eu vi que alguns me sorriram de volta. Um simples gesto, mas que pode fazer toda a diferença. Enche o coração de alguém, traz carinho, traz paz. E o melhor, não custa nada, e faz bem pra quem oferta e pra quem recebe.
Em muitos momentos de raiva, um sorriso apazigua. Na tristeza, traz um pouco de felicidade. Na escuridão, uma brechinha de luz aparece. Nos dias nublados, ele pode ser um sol particular. E nos momentos alegres, traz mais alegria.
Sorria, sem motivo, sem razão, apenas pelo prazer da ação, pra ver a reação do outro. Eu já fiz o meu teste, que a partir de hoje será uma constante pra mim. Tente fazer o seu também. Seja a mudança de alguém. Seja também um pequenino sol. Já sorriu pra alguém hoje? Ainda dá tempo.

Yara Lopes

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um presente especial


Eu me lembro com perfeição do dia em que soube que ela existia. Era o fim de tarde, eu estava em casa e minha irmã veio conversar comigo. Ela tinha um semblante preocupado, tive medo do que poderia ser. Estava grávida. Ela já tinha sua vida feita, sua faculdade, seu emprego, mas ainda assim era uma surpresa. Seria para todos nós. Era a menos preocupada dentre nós(as irmãs), a mais leve, a mais livre. Não conseguia imaginá-la como mãe, simplesmente não encaixava. Minha mãe no começo não areditou, até porque minha irmã sempre fazia umas piadinhas de mau gosto, tinha um pezinho no humor negro. E depois ela ficou chocada, não queria aceitar, não acreditava que seria avó.
Depois de um tempinho, as coisas começaram a mudar. Fiquei extremamente animada com o nascimento próximo daquele bebezinho. O início da gestação foi complicado, ela teve de ficar em repouso absoluto, e eu nunca me esqueço das visitas que eu fazia. Me apeguei muito ao novo integrante de nossa família, antes mesmo de conhecê-lo. Ficava conversando com ele, cantando musiquinhas, imaginando como ele seria. Descobrimos que na verdade, era "ela". E aí foi o dilema pra escolher o nome. Eu desde o início votei por Sophia, que foi o escolhido.
No dia em que ela nasceu, foi a maior alegria. Fui ao hospital antes de ir pra escola, mas não cheguei a ver minha pequena. Mas a tarde eu consegui e ela era a coisinha mais fofinha e pequenina que eu já havia visto, e um amor enorme e diferente de todas as outras coisas que eu conhecia brotou em meu coração. Ela era saudável, linda e cheia de vida nova. E essa vida trouxe esperanças e alegrias pra muitas pessoas.
Vê-la crescer é uma coisa magnífica, um verdadeiro milagre. Fico lembrando de quando ela começou a andar, tropeçando, sempre na pontinha dos pés, igual a uma bailarina. Logo, logo ela começou a correr e todos ficavam morrendo de medo dela se machucar. As primeiras palavras também chegaram, juntamente com as expressões novas, os gestos, os gostos. Bastava ela estar presente e ficávamos como bobos, só esperando um novo som, um novo olhar vindo de nossa princesa.
Ela é como sua mãe em vários aspectos, fisicamente as pernas são a maior prova do parentesco, e bem, ela realmente como demais pra uma pessoa tão pequena. É lindo descobrir o que ela gosta de fazer e com quem gosta de brincar. E como tudo isso passou tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Parece que ela sempre exisitiu, como se a época antes dela fosse apenas um borrão, sem brilho e sem graça.
Hoje a Sophia tem 2 anos e 2 meses e é a criança mais perfeita que eu conheço. É carinhosa, inteligente e fala tudo o que se possa imaginar. Nesse último dia das mães, fiquei observando como ela e minha irmã tem a ligação mais especial do mundo. Aonde a mãe fosse se sentar, ela ia atrás e se sentava ao lado. O que a mãe fosse fazer, ela queria fazer igual, estar sempre perto. Foi também nesse dia das mães que o primeiro presentinho de escola feito por ela chegou. Um cartão com as duas mãozinhas dela pintadas, escrito: " Mamãe, essas são as minhas mãozinhas, quantas travessuras elas já não fizeram? Você se lembra?" Bom, se eu me lembro de tantas coisas que ela já fez, com tantos detalhes, imagino que a mamãe deve se lembrar de todos.
Eu já amava a Sophia, mas também nesse dia, eu estava sentada no sofá, chorando, e ela estava sentada com a mamãezinha dela. Eu nem percebi como foi isso, mas sei que ela se levantou, chegou perto de mim e alisou a minha perna. Me olhou por breves segundos, mas eu nunca mais vou esquecer aquele olhar. Ela estava triste por me ver triste, e tentava me consolar. Não disse nenhuma palavra, apesar de já saber falar "não chora, não", mas acho que não existe palavra em nenhuma língua que pudesse exprimir aquele gesto. E mesmo que eu achasse impossível, eu ainda a amo mais agora.
Eu nunca pensei que aquele dia, aquele fim de tarde pudesse mudar tanto a minha vida, nem a vida da minha família, a vida da minha irmã. A Sophia é o presente que eu nunca pedi, mas foi o que eu fiquei mais feliz em receber. Quem sabe um dia eu receba um diretamente para mim?

Yara Lopes

terça-feira, 11 de maio de 2010

O eu deles no meu


Pais. Família. A base da vida de cada pessoa, ou grande parte delas. Na verdade, crescemos e nos desenvolvemos a partir da vivência do lar, dos princípios e valores passados a nós pelos genitores, dos costumes e tradições que passamos a ter. Todo o processo de criação de personalidade começa em coisas muito pequenas , detalhes de quando ainda somos bebês. É o uso ou não do bico, até quando tomar a mamadeira, o ritual para conseguir dormir, o ursinho que vai ficar em cima da cama por muito tempo... Desde os tipos de comida que gostaremos mais, o time do coração e os gostos musicais até a profissão escolhida a pessoa com quem vai se casar, de uma forma ou de outra, tudo tem um pezinho na criação recebida pelos pais. Eu, felizmente, não posso reclamar da que eu recebi. Meu pai foi uma ótima influência pra escolha do time de futebol e pra músicas lindas que nunca vou esquecer e que, se um dia eu chegar a ser mãe, quero ensinar para os meus filhos também. Minha mãe me ensinou a gostar de inglês, o que se tornou utilissíssimo para mim, e a amar a Deus, o que para mim, é obviamente essencial. Mas, além disso, muitas outras coisas me fizeram ser quem eu sou, garantiram o futuro que tenho condições de ter, proporcionaram oportunidades no passado. É impossível que um dia eu esqueça de um jogo que o meu pai fazia comigo e com meus irmãos. Assistíamos a TV Senado e ganhavamos um prêmio se soubessemos o nome e o partido do político que estava falando. Hoje, eu penso muito em tentar uma especialização em política depois da faculdade de jornalismo, e é claro que isso não surgiu do nada, as raízes nasceram lá atrás, quando eu ainda nem tinha muita noção do mundão que envolve a gente. Minha mãe me ajudava a decorar as capitais do Brasil e as principais do mundo, eu achava divertido, porque ela sempre batia palmas quando eu acertava, ficava toda boba e me abraçava. Como sou a filha caçula, meus pais se preocupava extremamente comigo, até hoje na verdade, e não me deixavam muito ir brincar na rua, essas coisas, tinham medo do que ia acontecer comigo. Teve um lado ruim, eu ficava um pouco só. Mas foi uma das melhores coisas, porque aprendi a gostar ainda mais dos livros, eles se tornaram meus amigos, me levaram a vários lugares diferentes, se tornaram meus melhores amigos e sim, serão eternos. Aprendi também a gostar muito de cantar, lembro que sempre cantava e o meu irmão tocava violão, eu, claro, me achava uma estrela, e sinto falta disso. Minha paixão por filmes vem, novamente, da minha mãe, que até hoje conta com detalhes todos os filmes a que assite, ela se diverte demais fazendo isso, e esse costume me ajudou a ser mais criativa, a imaginar o que eu nunca tinha visto. Com minhas irmãs aprendi muitas coisas também. A criticidade e o recente gosto pra certos tipos de música, a escolha de roupas e os conselhos amorosos, e principalmente a união e o amor inexplicável e gigantesco que consegue ficar sempre maior. No fim, ficaria aqui escrevendo páginas e páginas sobre coisas que aprendi, que vivi com eles. Mas o principal pra mim foi aprender a valorizar a educação, ela vai pra sempre com a gente, onde formos, a humildade a gratidão. E a eles, serei grata eternamente, por sucessos, fracassos, alegrias, tristezas, pelo pouco, pelo muito, por tudo.
Yara Lopes

domingo, 9 de maio de 2010

Adeus 17


Amanhã é meu aniversário, 18 anos. Hoje, portanto, é meu último dia com 17 anos, último dia antes da maioridade. Tá certo que não vai mudar nada na minha vida, a não ser pelo fato de que poderei ser presa, comprar bebidas alcoolicas e cigarro, o que significa que na verdade, tudo vai continuar do mesmo jeito.
Apesar disso, comecei a pensar no que aconteceu comigo de um ano pra cá. De fato, muitas mudanças, provações e dificuldades. Mas vivi muitas coisas boas, que me ajudaram a crescer, a ser um pouquinho melhor. Completei 17 anos longe de casa, estudando pra prestar o vestibular no fim do ano. Um momento muito complicado pra mim, sentia saudades da minha cidade, dos meus pais, irmãos, amigos... Além de tudo, havia a pressão pra ser aprovada em alguma faculdade federal, e isso estava tirando a minha paz. Como sempre, apareceram coisas e pessoas maravilhosas que fizeram tudo valer muito a pena. Fiz amizades incríveis, que me ajudaram a superar a solidão e o medo. Uma se tornou uma de minhas melhores amigas, me ajudou nos momentos em que eu mais precisei, me ajudava quando estava toda enrolada, estudava comigo, me ensinou a andar em Vitória, me levou pro hospital quando eu fiquei doente e me ajudou a fazer minha mudança. Nem sei o que teria sido de mim sem ela me apoiando, e hoje já não sei me ver sem ela. Tive professores que mudaram muito minha visão de ver as coisas, tentaram ser como os pais em sua ausência. E pra minha imensa sorte, tinha um namorado-anjo, que me socorria quase todos os dias, e foi o responsável por manter minha sanidade mental em meio a tantas loucuras.
Morar sozinha. Foi um passo e tanto pra mim. Aprendi a me virar, a ser responsável por mim, pelas minhas ações. Percebi que a comida não aparece no armário se você não vai ao supermercado, que as unhas quebram quando lavamos calças jeans sem máquina e que se a fome chegar, a mamãe não chegara junto trazendo uma comida, ou seja, faça sua comida porque ninguém fará pra você. Essa é a coisa principal: ninguém faz as suas coisas por você. Fazer faxina, pagar as contas, chamar um eletricista se o chuveiro queimar... São coisas simples, mas com as quais eu nçao tinha que me preocupar até aquele momento. E foi maravilhoso, comecei a dar valor a coisas que antes eu mal percebia que existiam.
Tudo isso teve um final hiper fantástico. Voltei pra Teixeira nas férias, esperando os resultados do vestibular, super nervosa, ansiosa, nem conseguia dormir direito. FInalmente minha agonia chegou ao fim gloriosamente, graças a Deus consegui ser aprovada em 4 federais. Parecia um sonho, eu ia poder escolher pra onde ir. Fiquei um mês em Niterói estudando na UFF, aprendi coisa demais, tive experiências incríveis, conheci muitas pessoas legais. Mas, voltei pra minha cidade, decidi esperar aqui o segundo semestre da UFRJ, meu verdadeiro sonho.
Aqui estou agora, decansando e aproveitando minhas férias prolongadas. Lendo muito, assintindo filmes e seriados mais ainda. E claro, comprando esmaltes a melhorando meus dotes de manicure, haha! As pessoas tem sido tudo pra mim, nem tenho como agradecer.
Hoje é meu último dia de uma idade que foi maravilhosa e deixará muitas lembranças. Além disso,é dia das mães,e tive o privilégio de ter minha mãezinha perto de mim, e meu pai também, juntos. Passei um tempo com minhas irmãs e minha sobrinha, ri como não ria há muito tempo. Tivemos até um aventura secreta e como sempre, cantamos muito, desenterrando umas músicas do baú. Foi perfeito, como sempre que estamos juntas.
Uma nova etapa vai começar na minha vida, não só com a chegada dos meus 18 anos, mas com a chegada da faculdade, a mudança de novo, várias outras descobertas. Só tenho que agradecer a Deus por tantas oportunidades, momentos e pessoas maravilhosas que fizeram e fazem parte de tudo o que eu vivi. Família, amigos, casa, faculdade, futuro... Tenho tudo e mais do que eu pedi. Vou sentir muitas saudades das pessoas que estão longe de mim, das coisas que infelizmente tiveram que chegar ao fim. Mas é uma falta boa, com alegria no coração, com esperança de restituição. E estou ansiosa pra tudo o que ainda está por vir. Maioridade, seja muito bem-vinda.

Yara Lopes

sábado, 8 de maio de 2010

(não)Te encontro na avenida



Quem mora em Teixeira de Freitas, Bahia, sabe muito bem o que significa esta época do ano. A cidade comemora o seu aniversário, agora em 2010 completa 25 anos de maturidade política. E para comemorar um acontecimento tão especial temos a conhecida "Festa da Cidade", que para muitos representa um dos melhores acontecimentos do ano. O sistema da festa é simples: são três dias de micareta. Isso é o suficiente para deixar quase todos felizes. Tudo isso acontece na Avenida Presidente Getúlio Vargas, que fica interdida para o posicionamento dos trios elétricos e das barracas de comida e bebida. No começo da noite o som já é ligado, mas o movimento maior começa mesmo a partir das 22 horas, mais ou menos. Eu tenho a sorte de morar nos arredores de onde os trios ficam, ou seja, são três dias de folia para alguns milhares de pessoas e três dias sem dormir para Yara. Eu ainda ganho de brinde prisão domiciliar(não tenho coragem de sair de casa, a cidade fica bem perigosa) e olheiras gigantescas. E como sempre pode ficar melhor, logo depois é meu aniversário, o qual eu acabo passando cansada, irritada e obviamente, com minhas queridas olheiras enfeitando o meu rosto. Muita gente ainda me olha como se eu fosse um ser de outro planeta quando me dizem :"Te encontro na avenida" e eu respondo: "Não conte comigo". Mas eu não sou uma pessoa egoísta(tá, não muito egoísta) e existem várias outras razões pra minha rejeição a isso. Uma delas eu já disse antes, a cidade fica perigosa demais. Apesar do policiamento oferecido pela prefeitura, o número de assaltos aumenta bastante, sem contar com acidentes de trânsito, brigas e até mortes. Fiquei muito triste ao receber hoje à tarde a informação de que ontem duas pessoas morreram na festa, uma caiu do trio e outra foi vítima de uma garrafada na cabeça. E o que era pra ser um momento de comemoração e alegria, muitas vezes acaba em tragédias. Há também o fato de que um dos maiores eixos econômicos de Teixeira é o comércio, que fica super abalado depois desses três dias, pois o dinheiro do mês é gasto com abadá e bebidas. Além de tudo isso, há uma razão ainda mais óbvia: o aniversário da cidade deveria ser comemorado com atividades que mostrassem o que há de bom aqui, com atividades culturais, gincanas, apresentação de artistas regionais, boa música, teatro, poesia... A micareta poderia continuar a noite, essas atividades poderiam ser feitas a tarde. Espere, isso já aconteceu. Anos atrás o sistema era diferente, mas hoje, quem precisa de cultura se existe um axé tocando e você pode descer até o chão? Não tenho direito nenhum de condenar as pessoas que nesse exato momento estão na avenida,pulando, dançando, cantando e até se embriagando. Mas felizmente eu tenho escolha e fico satisfeita em permanecer no conforto do meu lar, segura e contando os minutos pro fim de semana acabar. Enquanto isso, coloco um som alto, em tentativas inúteis de abafar o som da banda "Batida Baiana" que inunda o ambiente agora...

Yara Lopes

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os melhores momentos da minha vida


Certamente a vida é feita de momentos e pessoas, que deixam marcas fortes, fracas ou simplesmente passam despercebidos. Momentos bons, na maior parte das vezes, vem acompanhado de pessoas boas, ou ao menos de pessoas que parecem ser boas para você na situação. Lugares bonitos, dias sem preocupação, diversão, apenas coisas alegres, e, obviamente pessoas alegres compartilhando esse momento com você.
Parece que felicidade atrai mais felicidade. Geralmente quando chega uma notícia boa, outras coisas boas começam a acontecer também. Muitos chamam isso de “maré de sorte”. Usando a lógica, então, será que coisas ruins atraem mais coisas ruins? Se passamos por situações difíceis, não conseguimos fazer as coisas darem certo, então teremos pessoas ruins ao nosso lado? Ou então pessoas tristes, que também estão passando por momentos difíceis? Tá, um pouco pior, será que teremos pessoa alguma? Dessa forma podemos concluir que pessoas afortunadas serão cada vez mais afortunadas e pessoas não agraciadas com a sorte seriam cada vez mais infelizes. Certo? Errado!
A boa notícia para todos nós é que diferentemente da matemática, a vida real não é uma ciência exata, não se pode calcular o que acontece, planejar usando a pura lógica. Depois de várias experiências, pude perceber que os momentos ruins acabaram me marcando com mais força do que os momentos bons. Mas isso me trouxe coisas maravilhosas, e essas sim são as que ficarão comigo pra sempre. Quando eu estive triste, sofrendo e precisando de ajuda, eu vi pessoas ao meu lado. Não pessoas tristes ou pessoas que passavam pelos mesmos problemas que eu. Pessoas que se importavam comigo, que ofereceram um abraço de conforto, uma palavra de motivação e horas e mais horas de seu tempo para ouvir os meus lamúrios. Pessoas que estavam felizes por estarem ao meu lado, mas que se entristeciam com o meu sofrimento. Pessoas que não saíram do meu lado até eu me recuperar e estar pronta pra enfrentar todo o resto que eu ainda teria de enfrentar. Amigos. O mais impressionante é que eles parecem estar mais presentes nos momentos em que eu preciso de apoio do que quando eu estou bem, o que me mostra quanta sorte eu tenho, quão abençoada eu sou em ter quem goste de mim, não de algo legal que eu viva ou tenha.
Numa situação recente complicada, comecei a analisar a reação das pessoas ao que eu estava passando. Minha melhor amiga me ouviu, me abraçou e tentou não me dizer muitas coisas, mas a sua presença silenciosa falava milhões de palavras doces ao meu coração. Ela dispôs de todo o seu fim de semana em casa comigo, pintou minhas unhas umas 10 vezes, assistiu o jogo de futebol que nem era do seu time e levou uma sobremesa maravilhosa(isso foi mais pra minha mãe, mas eu me aproveitei, claro). Eu sei que ela tinha um monte de coisas pra fazer, trabalho de faculdade, guarda-roupa pra organizar, talvez sair com outros amigos e descansar do trabalho. Mas ela ficou comigo, como sempre, e eu nunca vou esquecer. Minha mãe está tentando me deixar dormir até a hora que eu quiser, não reclama quando eu faço algo errado e voltou a fazer meu café da manhã. Ela está fazendo um esforço enorme pra não conversar comigo sobre o assunto do jeito que eu pedi, e eu fico muito feliz com isso. Alguns amigos tentaram me aconselhar, disseram que vai dar tudo certo, mas acho que ficam longe com medo de eu dar uma crise a qualquer momento. Mas dois me chamaram mais atenção. O primeiro está sendo incrivelmente atencioso comigo, e me mostra que se importa com pequenas coisas, como tentar passar na minha casa só pra ver se eu estou bem no intervalo entre o trabalho e o cursinho, e gravar meus seriados favoritos pra eu poder me distrair um pouco. O segundo decidiu que não ia consolar porque era meio depressivo. Foi sincero comigo, mas sei que se compadece da minha situação. Para tentar me ajudar ele me forneceu o nome do meu blog, fato que realmente me alegrou bastante, conversa comigo como se eu fosse normal(o que é a realidade) e não como se eu fosse enlouquecer e me manda coisas legais como músicas de novos nomes da MPB e ideias para contos. Mas principalmente ele tem um jeito brincalhão de aumentar minha auto-estima, e eu gosto disso. Ah, e não poderia me esquecer da minha irmã que se ofereceu pra fazer caminhadas comigo, o que se tratando dela, é praticamente a concretização de um milagre. Além disso ela me liga pra falar piadas de humor negro, o que sempre funciona.
Depois de todo esse blablabla sentimentalista, o que eu quero dizer é que pra mim os momentos ruins acabam sendo os melhores momentos da minha vida. São neles que eu redescubro a amizade e me lembro de agradecer por ela existir pra mim, que vejo valor no que pode parecer pequeno e brilho no que estaria apagado. No fim, infortúnios também trazem um pouco de sorte, tristeza traz também felicidade, separações podem reaproximar. Isso vai depender de como você lida com tudo isso, do que você escolhe. A minha dica? Quem sabe olhar a vida sem óculos e andar por ela descalço?

Yara Lopes