quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um desabafo


Esse é um texto de revolta, confesso. Não é a minha intenção contaminar ninguém com o meu estresse ou a minha raiva, mas eu gosto de externar as coisas que eu penso e que eu sinto, e hoje mais do que nunca eu precisava colocar esse turbilhões de coisas que estão me atormentando. Às vezes a gente acorda estressado, irritado, quer gritar com o mundo. Não dá vontade de sair da cama, não queremos ver ninguém, não queremos conversar, não existe nada que seja bom. Sim, pode parecer o contrário na hora, mas o problema é com a gente e não com o resto do mundo. E é complicado, porque as coisas não param simplesmente porque você acordou sem vontade, o trabalho continua lá te esperando, a faculdade não vai sair do lugar, a casa precisa ser arrumada, você vai ter que falar com as pessoas e elas falarão com você, porque o mundo continua girando, em torno do sol, não da gente. E é isso que parece causar mais irritação.

Nesses dias começamos a perceber a inutilidade das convenções sociais, por exemplo, por que temos que falar bom dia, contar do que aconteceu com a gente, ouvir o que aconteceu na vida das pessoas e ainda sorrir quando não sente a mínima vontade de fazê-lo? Na verdade, não há a mínima vontade de fazer coisa alguma, não existe nada que consiga fazer tudo isso passar. Tem que esperar o tempo passar.
E sim, é isso que eu sinto agora. Não só hoje, tem sido em geral uma semana ruim, e eu não sei bem a razão, talvez porque não haja uma em especial. Simplesmente não tem nada que me agrade, não tenho vontade de conversar, não quero assistir aulas, não quero ver o mundo. Hoje foi o pior desses dias ruins. Eu quebrei todas as regras. Ouvi a música que não poderia ouvir, e aí comecei a ver as fotos que já deveriam ter sido apagadas não só do meu computador, mas da minha vida. E chorei. Chorei pelas coisas de que me lembrei, por saudades do que eu tive, por vontade de voltar no fim de semana que eu fui tão feliz que achei que ia explodir, por querer ter o poder de escolha nas minhas mãos, por querer ter alguém do meu lado que faria toda a diferença do mundo. E eu gritei, até assustar os vizinhos. Gritei pela raiva de ter perdido o que foi tão meu, por ter raiva de ter perdido, por ainda me lembrar, por ainda desejar, por ter estagnado, por ter regredido. E aí vem a dor. Tão forte que queria arrancar um pedaço de mim mesma, quer queria bater em alguém com muita força, pra ver se aliviava um pouco da minha própria dor, tão forte que eu já nem sentia mais, eu já havia me transformado na dor.

Fui pra faculdade e me arrependi de ter ido. Sou sempre sorridente, alegre e saltitante, e obviamente as pessoas achariam que eu estaria no meu estado normal, e por isso sorriram pra mim, falavam comigo, contavam suas coisas, mas tudo que eu queria era gritar e sair dali correndo. E foi por isso que não assisti a palestra de Artes, eu não ia conseguir ouvir aquele moço falando de fotografia alemã, quando eu estava tão, tão...nem sei a palavra que pode definir. Quando chegamos a esse estado, não adianta, temos que parar um pouco, tentar tirar isso que está fazendo mal. Então eu fiquei conversando com meu amiguinho, e foi bom, chegamos a várias conclusões numa conversa mega viajante. Percebemos que sentar no chão ajuda a pensar, que faltar uma palestra de fotografia não é o fim do mundo, que é por momentos estressantes como esse que as pessoas bebem, que ignorar e fazer ciúmes são técnicas de sedução, que quando não se tem nada vale a pena arriscar, que se essa pessoa não te quer tem várias outras querendo, que muita gente fica em função de atrapalhar sua vida, que amigos virtuais podem ser mais fieis que amigos reais, que a vida é muito complicada, que sorrir nem sempre é uma coisa legal e que ter um amigo com quem tirar essas conclusões não tem preço.

Passado esse momento filosófico, percebi que havia uma outra coisa que estava causando a minha raiva. Na verdade, mais uma pessoa. E aí toda a raiva, a decepção, o incômodo que ela me fez passar veio de uma vez, e eu decidi que chega. Pra que continuar tentando ser cordial e boazinha com quem não faz o mesmo por você? Pra que continuar com algo que não mais te faz bem? E minha vontade de gritar e socar veio ainda mais forte. Percebi que aulas de boxe não seria uma má ideia na minha vida, pelo menos funciona nessas horas. Conclui que ignorar não é só técnica de sedução, pode ser tapa de luva, também. A essa altura do campeonato, ainda tive que juntar toda a paciência para ver duas aulas, mas que foram interessantes, consegui esquecer da minha raiva. Se concentrar em coisas complicadas é bom pra esquecer momentâneamente os problemas, alivia um pouco.

Cheguei em casa irritada, ainda bem que minha amiguinha divididora de lar é muito compreensiva e me ouviu reclamar, ainda não sei como ela conseguiu, porque nem eu estou aguentando o meu mau humor, e com certeza ninguém vai ler isso, não teriam paciência, mas estou num momento que nem ligo,não estou ligando nem pra mim mesma, não estou ligando pra nada. Hoje eu só quero ficar quietinha e tentar afastar de mim tudo que me faz ficar assim tão diferente e chateada. Quero manter as coisas boas, pra acordar amanhã e ver como o Rio de Janeiro é bonito, chegar na faculdade feliz, sorrir pras pessoas, ver graça nas coisas. Enquanto isso eu continuo com o meu mau humor e azedume. Tenho que parar de remoer as coisas,isso é um fato.
Yara Lopes

3 comentários:

  1. Yara, gostei do seu blog e adicionei-o à lista dos blogs que eu recomendo no meu =)
    Sobre o seu post.. eu li todo, viu? haha Acho que tem vezes que a gente fica assim mesmo... nem todos os dias são bons, nem todas as pessoas são legais, nem tudo é fácil pra todo mundo, nem todos os problemas sao resolvidos facilmente; mas existe sempre o contrario, os dias legais, as pessoas importantes, as soluções que chegam facilmente às nossas mãos ... Bom, espero que esse momento chato passe por voce mais rápido do que voce imagina.
    beijinhos!

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  2. Owwn, que fofa. Obrigada, Ju. Passou sim, hoje já foi um dia super legal. Vou visitar o seu blog, também. Beijos

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  3. É, todos temos esses dias, que queremos apenas jogar tudo para o alto, infelizmente não é simples como queremos...
    (Também li tudo hahaha)

    ps: saudades de você, Yara!

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