quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um presente especial


Eu me lembro com perfeição do dia em que soube que ela existia. Era o fim de tarde, eu estava em casa e minha irmã veio conversar comigo. Ela tinha um semblante preocupado, tive medo do que poderia ser. Estava grávida. Ela já tinha sua vida feita, sua faculdade, seu emprego, mas ainda assim era uma surpresa. Seria para todos nós. Era a menos preocupada dentre nós(as irmãs), a mais leve, a mais livre. Não conseguia imaginá-la como mãe, simplesmente não encaixava. Minha mãe no começo não areditou, até porque minha irmã sempre fazia umas piadinhas de mau gosto, tinha um pezinho no humor negro. E depois ela ficou chocada, não queria aceitar, não acreditava que seria avó.
Depois de um tempinho, as coisas começaram a mudar. Fiquei extremamente animada com o nascimento próximo daquele bebezinho. O início da gestação foi complicado, ela teve de ficar em repouso absoluto, e eu nunca me esqueço das visitas que eu fazia. Me apeguei muito ao novo integrante de nossa família, antes mesmo de conhecê-lo. Ficava conversando com ele, cantando musiquinhas, imaginando como ele seria. Descobrimos que na verdade, era "ela". E aí foi o dilema pra escolher o nome. Eu desde o início votei por Sophia, que foi o escolhido.
No dia em que ela nasceu, foi a maior alegria. Fui ao hospital antes de ir pra escola, mas não cheguei a ver minha pequena. Mas a tarde eu consegui e ela era a coisinha mais fofinha e pequenina que eu já havia visto, e um amor enorme e diferente de todas as outras coisas que eu conhecia brotou em meu coração. Ela era saudável, linda e cheia de vida nova. E essa vida trouxe esperanças e alegrias pra muitas pessoas.
Vê-la crescer é uma coisa magnífica, um verdadeiro milagre. Fico lembrando de quando ela começou a andar, tropeçando, sempre na pontinha dos pés, igual a uma bailarina. Logo, logo ela começou a correr e todos ficavam morrendo de medo dela se machucar. As primeiras palavras também chegaram, juntamente com as expressões novas, os gestos, os gostos. Bastava ela estar presente e ficávamos como bobos, só esperando um novo som, um novo olhar vindo de nossa princesa.
Ela é como sua mãe em vários aspectos, fisicamente as pernas são a maior prova do parentesco, e bem, ela realmente como demais pra uma pessoa tão pequena. É lindo descobrir o que ela gosta de fazer e com quem gosta de brincar. E como tudo isso passou tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Parece que ela sempre exisitiu, como se a época antes dela fosse apenas um borrão, sem brilho e sem graça.
Hoje a Sophia tem 2 anos e 2 meses e é a criança mais perfeita que eu conheço. É carinhosa, inteligente e fala tudo o que se possa imaginar. Nesse último dia das mães, fiquei observando como ela e minha irmã tem a ligação mais especial do mundo. Aonde a mãe fosse se sentar, ela ia atrás e se sentava ao lado. O que a mãe fosse fazer, ela queria fazer igual, estar sempre perto. Foi também nesse dia das mães que o primeiro presentinho de escola feito por ela chegou. Um cartão com as duas mãozinhas dela pintadas, escrito: " Mamãe, essas são as minhas mãozinhas, quantas travessuras elas já não fizeram? Você se lembra?" Bom, se eu me lembro de tantas coisas que ela já fez, com tantos detalhes, imagino que a mamãe deve se lembrar de todos.
Eu já amava a Sophia, mas também nesse dia, eu estava sentada no sofá, chorando, e ela estava sentada com a mamãezinha dela. Eu nem percebi como foi isso, mas sei que ela se levantou, chegou perto de mim e alisou a minha perna. Me olhou por breves segundos, mas eu nunca mais vou esquecer aquele olhar. Ela estava triste por me ver triste, e tentava me consolar. Não disse nenhuma palavra, apesar de já saber falar "não chora, não", mas acho que não existe palavra em nenhuma língua que pudesse exprimir aquele gesto. E mesmo que eu achasse impossível, eu ainda a amo mais agora.
Eu nunca pensei que aquele dia, aquele fim de tarde pudesse mudar tanto a minha vida, nem a vida da minha família, a vida da minha irmã. A Sophia é o presente que eu nunca pedi, mas foi o que eu fiquei mais feliz em receber. Quem sabe um dia eu receba um diretamente para mim?

Yara Lopes

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