segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O que ficou


A gente tem umas vontades muito estranhas de vez em quando. Tudo bem, por "a gente" eu digo eu mesma, confesso. Tenho vontades estranhas, aleatórias e incovenientes. Elas aparecem sem me dar nenhum aviso e ao contrário de outras coisas que vão embora tão repentinamente quanto chegaram, resolvem ficar e acampar na minha cabeça. De vez em quando resolvem se mudar pra sempre, até que eu sucumba aos seus planos terríveis.

Não, não é drama. Queria eu que fosse apenas isso. Queria eu que fosse uma coisa da minha cabeça, uma birra, uma manha. Poderia ser qualquer coisa, contanto que não fosse a coisa que é. É verdade, é certo, é um fato. Então eu fecho os olhos, bem forte, até formar aquelas manchas meios coloridas e as pálpebras doerem. Eu canto dentro da minha cabeça pra tentar afastar os pensamentos. Eu uno as minhas mãos, faço uma oração silenciosa, um misto de prece com confissão, desesperada, aflita.

Mas não posso ficar assim pra sempre. Abro os olhos, cesso a canção, solto as mãos. Vejo que nada disso funcionou. Você continua ali, parado, alheio a tudo que tem acontecido. Enquanto eu ainda penso, ainda sinto, ainda espero, depois de tanto tempo. Ainda sinto as mãos suarem, fico nervosa, o coração acelera. Parece a quinta série de novo, eu mais boba do que nunca. Parece daqui a 50 anos, eu ainda me lembrando. Parece não ter tempo nenhum, porque sentimento é alheio a esse tipo de coisa. É váculo, velocidade da luz, queda livre, desaceleração, tendência ao infinito, tudo que possa fazer sentido e sentido nenhum. Tudo. Nada. E tudo de novo, só que duplicado.

Não achei que um olhar pudesse trazer tantas coisas ao mesmo tempo. Frio, medo, adrenalina. Saudade, felicidade, salto. Chocolate, choro, dengo. Perder, sofrer, lembrar. Tentar, tentar, tentar. Raiva, agonia, aflição. Desespero. E uma paz, tão desconfortante e promissora, que promete falsamente que tudo ficaria bem. E o pior de todos os monstros, a expectativa. E claro, ela sempre finda. Sobraram as lembranças. E a saudade, ah, que saudade...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pérolas aos porcos


A verdade sobre ser legal é que parece que só você percebe isso, no máximo uns amigos mais próximos. A impressão que dá é que você é um bobo, que acredita em qualquer coisa e que vai cair em qualquer conversa; querem se aproveitar de você, simplesmente isso.

Eu nunca fui muito de gostar das pessoas, sabe? Tento sempre ser muito agradável e não fazer nada de ruim, mas não sou de ter milhares de amigos, nunca fui de agradar logo de cara, porque falo muito o que estou pensando e não vou sorrir só porque o compromisso social me diz que preciso. Mas existem as pessas de quem eu gosto de verdade e por quem eu vou fazer todo o possível, já disse isso muitas vezes. São as pessoas que depois de me conhecerem melhor descobrem o que há de verdade por trás da imagem que fazem, são os que me veem de verdade.

Mas existem sempre os que não conseguem enxergar, os que me fazem querer desacreditar, os que me fazem colocar em dúvida a crença na bondade genuína das pessoas. Tem gente que gosta de enganar e de mentir, sem se sentir mal por isso, sem se arrepender, só porque sente vontade. Que joga com a sua vida, que não mede a consequência do que faz, que magoa por querer. E isso é algo que não vou conseguir nunca entender. Não acho que todo mundo deve se amar e fazer várias coisas legais uns pros outros sempre, meu mundo não é tão cor-de-rosa. Mas acho, sim, que é obrigação de cada pessoa cuidar das palavras e das ações que interferem no sentimento de outras, e não enfiar um dedo na ferida ou colocar uma pedra pra você tropeçar. As pessoas se magoam, verdade, mas não deveria ser de propósito. O que se ganha com o sofrimento alheio? Qual é o prazer?

Tem características que deveriam te fazer especial, que poderiam ter o poder de encantar. Pra quem não entende isso é uma forma de afugentar, é estranho. O tal gostar se finda por uma coisa boba, o interesse vai pra algo mais novo, pro coletivo. Nunca foi gostar de verdade. O interesse era uma simples conveniência. E saem palavras sem sentido, olhares vazios, justificativas inúteis.

Passei sim por muitas coisas complicadas que me deixaram meio desconfiada, pode não ser tão simples de lidar. E tenho as minhas manias. Tenho medo de telefone e posso até cantar no cinema, fico emotiva em situações diversas e me perco em meus próprios pensamentos. Mas as peculiaridades se tornam qualidades pra pessoa certa, defeitos pra quem não deve estar por perto. Mamãe já me dizia "não jogue pérola aos porcos".

Yara Lopes

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Saudade reprimida


Eu percebi que faço um esforço pra não sentir falta das coisas, das pessoas, dos lugares. Tive de aprender a fazer isso, considero como uma espécie de adaptação pra viver melhor no meio, tipo teoria da evolução de Darwin. Se não me adaptasse, acabaria sendo esmagada pelos outros que tivessem conseguido, ou sendo mais dramática e realista, apenas teria que sofrer muito mais. E sofrer muito mais não é uma opção muito agradável.

Sair de casa foi o que me fez desenvolver essa tentativa de destanciamento com a saudade. Foi de longe a coisa mais difícil que eu tive de fazer, decidir ir pelo caminho mais difícil, ir em busca de um futuro, ficar longe do carinho e do cuidado que se tem em casa. Achei que a saudade seria impossível de aguentar, porque em tudo eu me lembrava dos cantinhos da minha cidade, da minha casinha, do meu quarto, do meu canto. Tudo me fazia querer voltar, largar tudo, deixar aquela dor de lado. Mas eu sabia que não podia, então eu comecei a afastar o sentimento de falta, não deixava ele se aprofundar demais, pensava em outras coisas, tentava me lembrar menos, fui me adaptando.

E funcionou. Antes eu precisava ir visitar de 15 em 15 dias, não conseguia me concentrar direito e nunca queria voltar depois da visita. Passei a ir menos, a ver a minha cidade menos como o lar e mais como lugar de férias. No fundo eu não acreditava muito nisso, não acredito até hoje, mas ajudava a me levantar todo dia e querer viver bem o dia, ajudava a sorrir mais. E isso foi se alastrando pra outras áreas da vida. E fui aguentando melhor a saudade da melhor amiga, das irmãs, do ursinho, das relações que se acabam. Fui me escondendo, deixando de enfrentar.

Fiquei longe de casa por cinco meses. Cinco meses sem ver meu pai, minha mãe, minha melhor amiga. Cinco meses sem deitar na minha cama, sem ver o imenso corredor que dá de uma rua a outra dentro de casa, sem acordar com uma frestinha de sol que entra pela cortina de fitinhas. E eu tinha me acostumado com isso, e dor já não era tão grande. E agora, quando volto, vi o erro que foi ter me escondido da saudade, porque fugindo ou não, ela chega. E eu agora tenho muito tempo de saudade acumulada, e não sei como pagar o preço que ela está cobrando. A saudade de casa agora é tão grande que eu tento absorver cada canto daqui e ainda não é suficiente.

Ao mesmo tempo sinto falta de todas as outras coisas que eu tentei não sentir. Remexi numa caixa antiga que encontrei no guarda roupa, cheia de lembranças que eu tentei apagar, palavras que eu tentei não ler e promessas que se perderam. Objetos, cartas, cheiros. E aí veio o choro, engasgado, merecido. Ele reclama o tempo que ficou ali preso. E traz o pesar de outras pessoas que ficaram pra trás, de momentos, das memórias. E me fez sentir tudo de uma só vez. Saudade agora da minha casa do Rio, com o vizinho padre e o sofá rasgado, os vizinhos chatos e a lâmpada da cozinha que dá defeito, o porteiro que deixa todo mundo entrar e os post its que eu prego na geladeira.

Saudades do primeiro ano do ensino médio, com 3 amigas malucas e especiais que ficaram perdidas no caminho da minha vida, com planos idiotas e sem sentido nenhum e risadas autênticas. Saudades de quando moravam todos os irmãos em casa, e a gente brigava pelo controle remoto, tempo no banho e arrumação do quarto. Saudades de caminhar até uma certa árvore e me despedir ali, doida pra que o outro dia chegasse logo, de receber ligações de madrugada e de me sentir boba. Saudades de sentar na cadeira e esperar mamãe pentear meus cabelos, mas não sem antes fazer "capitão frio" ou "capitão calor".

Percebi que eu estava fazendo de novo. Mesmo com a avalanche de saudades que eu estava sentindo, estava reprimindo o sentimento, não querendo sentir falta de alguém, convencendo a mim mesma de que ela não era importante o suficiente pra ser lembrada, pra eu querer estar perto de novo, pra se encaixar nesse quadro de saudades que marcou tanto. Tem coisas que a gente não escolhe, ou escolhe sem se dar conta, ainda não sei bem. Eu sei que não deveria reprimir a saudade, ela vai acabar voltando e me obrigando a lidar com isso, e eu não vou saber o que fazer, do mesmo jeito que não sei o que fazer agora. Mas nunca disse aqui que eu era super esperta e que aprendia com os meus erros. Sou só um ser humano, e um bem longe de ser evoluído espiritualmente. Então eu vou errar de novo, é um erro consciente. Eu estou decidindo não sentir falta agora. Estou escolhendo lidar com isso depois. Os meus erros passados já estão ocupando muito do meu tempo agora, preciso guardar um pouco pro futuro.

Só ainda não descobri muito bem como realmente não sentir essa falta agora. Será um sinal que nesse caso esteja sendo mais difícil que nos outros? Vou descobrir isso daqui um tempo. Ou não.

Yara Lopes

domingo, 10 de julho de 2011

Pessoas são más


Tem pessoas que são más. Cheguei a essa conclusão, depois de muito pensar e observar. Não estou falando das pessoas assustadoramente ruins, que tem coragem de matar um outro ser humano ou que planeja um estupro. Não. Falo das pessoas más do nosso dia-a-dia, como eu e você, que fazem as coisas muitas vezes sem nem ao menos percebem, que falam palavras pesadas, que se esquecem de dias importantes, que gritam, que ofendem, que traem e que mentem. E a razão disso tudo é uma só, o egoísmo.

Não adianta tentar negar, fazemos tudo de acordo com o que a gente quer, o que nos é mais conveniente e às vezes o que é fatal: o que é mais fácil. É difícil pensar no bem do outro quando existe o seu próprio bem pra correr atrás, quando tem a sua felicidade esperando pra ser alcançada e quando é tão mais cômodo não fazer nada complexo demais. Se alguém precisa de nossa ajuda na hora da nossa série favorita diremos que estamos ocupados com um trabalho, numa conversa falam mal de um amigo, mas você se omite por estar sozinho pra defendê-lo pra tanta gente que está contra, se alguém está passando por uma situação ruim e vira um chato falando disso o tempo todo a paciência se acaba depois de ouvir umas três vezes e não vai visitar aquele parente que está hospitalizado porque acha que não é a obrigação e que ele vai acabar se recuperando com ou sem você lá.

É meio triste quando é falado dessa forma, mas é o que acontece. Seja pela falta de atenção, por ter pouco tempo, por não ter interesse ou simplesmente por não querer e ponto final. Se pensássemos um pouco mais no outro e menos na gente mesmo, quantas pessoas não faríamos felizes? Quantos sorrisos estão sendo perdidos? Por que não fazer algo de legal, sem nenhum interesse por trás disso, só com a intenção de ver alguém se senti bem? Quantas vezes por dia pensamos em agradar primeiro alguém do que a gente mesmo?

É muito lindo ouvir um "muito obrigado" sincero e ver que o motivo naquele brilho no olhar é você. Não precisa receber nada de volta, vale a pena o esforço. Mas muita gente não pensa assim e pra mim, essa é uma das razões pro mundo ser mais cinza, menos cheio de sol. As pessoas não pensam no impacto de suas palavras, de suas ações e até do seu silêncio. Se estão de mau humor dão uma má resposta e se estão preocupados param de conversar, sem nenhuma explicação, sem nenhum esforço pra ser gentil, agem pelo que sentem e é isso. E o que o outro sente? E o que o outro quer?

Acho que nunca vou entender a razão de uma pessoa destratar alguém que só faz o bem a ela.
Não precisa tratar super bem e fazer muitas coisas se você não quer, mas não precisa tratar mal, porque uma das coisas que mais doi é gostar muito de alguém e tratar essa pessoa bem e receber de volta sentimentos ruins. Machuca, machuca muito.

Eu gosto das pessoas em geral, mas escolho bastante as pessoas que vou gostar muito. São poucas e por essas pessoas eu faria qualquer coisa, tento todos os dias fazê-las se sentirem bem, seja falando uma coisa bonita, dando um carinho, ouvindo um problema, fazendo uma oração por elas ou fazendo uma comida que ela goste. Eu vou estar ali pra qualquer coisa, vou ficar acordada até tarde pra esperar ela chegar e contar uma novidade, vou preparar uma tarde divertida, vou ouvir músicas que não gosto, vou me esforçar, vai ser de verdade. E eis que uma das pessoas pra quem você mais se dedica não gosta de ser gostada. Acha que gostar é demais. Talvez seja um defeito e eu ainda não saiba, ou talvez haja medo do que um sentimento bonito pode fazer. E aí ela te magoa, te trata com grosseria sem nenhuma explicação e te faz chorar de madrugada, quando se está sozinha e sem ninguém pra consolar. E gostar muito é no outro dia oferecer apoio pra ela, se preocupar e dizer tudo vai ficar bem. É pedir pra ser magoada de novo. É saber que vai chorar mais outras vezes. Mas tudo bem, gostar deve mesmo ser defeito, é ser bobo.

Pessoas são más. Mas continuamos gostando delas. Elas continuam gostando de nós. Essa é a magia.

Yara Lopes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vem comigo?

Fugir
Às vezes parece a melhor saída
É tão fácil, tão simples
É a ideia que agora me toma
Simplesmente não mais lidar com isso
Conseguir me abrigar num lugar seguro
Me guardar no meu refúgio
Habitar meu lugar feliz
Muitos vão dizer que é uma decisão covarde
Mas quem disse que o mundo é nobre?
Quero deixar os problemas lá fora
Quero me esconder desse mundo louco
Sozinha?
Não mais
Te estendo, então, a mão
E você, meu bem, quer fugir comigo?

Yara Lopes

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O tempo pára

Olho o relógio
O tempo não passou
Parece parado, congelado
Só pra brincar comigo.
Fecho os olhos, abro
Fecho de novo, só pra ter certeza.
Tenho um vislumbre
Perco o fôlego.
Forço minha mente a ficar ali
Admirando, relembrando, querendo.
Aspiro o ar e sinto seu cheiro
Presto atenção e ouço sua voz
Estendo as mãos, quero te tocar
Parecia tão real.
Mas foi só minha fantasia
Meu desejo de estar perto.
Olho pro céu, o sol ainda brilha
A noite demora a vir.
O relógio continua parado
E o tempo teima em se alongar
Mas meu coração bate, então eu sei
Que está mais perto de te ver de novo.

Yara Lopes

terça-feira, 21 de junho de 2011

Chegada

Não sei bem como aconteceu
Nem mesmo sei se isso é alguma coisa
Você surgiu, assim, bem na minha frente
Cheio de vida, mistério e vontade
Me mostrou que nem tudo é possível, ou real
Mas que o impossível é alcançável
E que sonhar é permitido
Então me deixei levar
Por seus olhos, seus beijos, seu toque
Me larguei em seus mistérios
Te envolvi em minhas histórias bobas
E me permiti sonhar
Idealizar
Realizar

Yara Lopes

terça-feira, 14 de junho de 2011

O que é isso que a gente tem?


O ser humano é complicado. Se relacionar com um "romanticamente" então... Pode às vezes até parecer impossível. Os primeiros encontros são os mais difíciceis de lidar, não exitem regras, dicas ou manuais sobre como se comportar, para dizer o que é permitido e o que é desejável. Vale mandar mensagens? Ligar? Como deve-se comprimentar? E se for sair sozinho, deve-se avisar? Estou sozinha ou acompanhada?

A cada fim de encontro, a cada despedida, podemos nos perguntar se haverá uma outra vez e quando ela seria. É a agonia de esperar uma ligação ou uma notícia inesperada, um inbox no facebook ou uma janelinha pisca no msn. E mesmo com a agonia gritante dentro da gente, ainda tentar fazer o papel de desentendida, calma e até ocupada, porque claramente não queremos demonstrar um desespero ou interesse demasiado. Respira. Mantem a calma. Espera o convite pra próxima vez, que simplesmente vem, com naturalidade, porque é assim que tem que ser. E o medo vai embora, ao menos temporariamente, porque ele volta quando vai dando a hora de ter que ver a pessoa ao vivo novamente. Pegar na mão? Abraçar? Falar que queria ver de novo, ou não falar nada?

Mas o melhor de tudo é quando essa fase confusa passa e você já pode mandar uma mensagem quando tem vontade, falar com sinceridade o lugar onde realmente quer ir e pedir ajuda alguma coisa idiota. É ter naturalidade na hora de ser ver, de se cumprimentar e de dar as mãos para caminhar na rua. Admitir que está morrendo de frio com aquela roupa, que não conhece aquele escritor famoso que a pessoa gosta ou que quer muito comer outra sobremesa. É quando as coisas começam a fluir, os movimentos são apenas passos naturais, parece que e como deveria ser. Vocês conversam todos os dias, contam das rotinas, riem de uma piada ruim que o outro diz. Veem algo na TV que lembra uma conversa, ouvem uma música que com certeza foi escrita pra vocês e acham que o tempo passa de forma diferente para certos momentos, acelera quando estão juntos e passa devagarzinho quando estão longes.

Apesar de tudo isso, fazem questão de dizer que não tem nada um com o outro, pra qualquer um que pergunte a resposta vai ser firme, depois de tanto ensaio: "estamos ficando, é só isso". É só isso? A conversa pode até ser evitada e o assunto é procrastinado, mas, o que é isso que a gente tem? Tendemos a achar que a dúvida vem só da nossa cabeça, que o outro nem pensa nesse tipo de coisa, sendo que no fundo é uma dúvida dos dois, uma pergunta que se passa, mas que acaba sendo engolida, guardada. A gente tenta, então, advinhar, e cria milhares de teorias mirabolantes, pensa coisas insensatas, chega a beira da paranóia. Apenas uma pergunta, boba, mas que trava a língua na hora de receber uma resposta.

Mas, será que realmente precisamos de uma resposta? Se ela é tão necessária, acho que dá pra se contentar com carinho. O mais importante não é uma definição da relação que está sendo mantida, mas do que ela significa, do que nela é vivida, dos momentos legais que ela proporciona. Estar juntos, olhar no olho( porque olhar pros dois olhos de uma pessoa ao mesmo tempo é impossível, podem testar), confiar um segredo, compartilhar uma sobremesa, fazer uma surpresa, sentir saudades... É isso que a gente tem. Uma vivência gostosa que nunca é suficiente num dia só e traz a vontade de se ver de novo.

Yara Lopes

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Não é você, sou eu


Pra mim, e sei que pra um monte de gente também, términos são coisas com as quais a gente não deveria ter de lidar, é simplesmente difícil demais. Ouvir que aquilo que se tinha acabou, que agora é o fim, definitivamente, e que você não faz mais parte da vida daquele alguém é algo que doi. É dor, pura e profunda.

E existem várias formas pras pessoas dizerem isso, mas a clássica é: “Não é você, sou eu”. E é aí que começa um discurso pronto, que deve passar de pai para filho, geração após geração desde que o mundo é mundo.

“A gente precisa conversar. Eu nem sei como começar a dizer isso, não achei que fosse chegar a esse ponto, poderia ter sido só mais uma fase. Infelizmente não dá mais pra continuarmos juntos, a partir de agora nossa vida vai ter de tomar caminhos diferentes. Eu pensei muito antes de tomar essa decisão, sei que é uma coisa grande, mas agora isso é tudo que posso fazer. E não é um tempo, não é uma briga. Não adianta me perguntar o que você fez de errado, o que está acontecendo ou qual a forma de conseguir consertar isso. Você é uma pessoa maravilhosa, vivemos muitas coisas lindas juntos e boa parte dos melhores momentos da minha vida foram ao seu lado. Conseguimos crescer, não só como um casal, mas individualmente, nos tornamos pessoas melhores, amadurecer. Fomos felizes, sim. Tivemos nossos momentos ruins, também, mas quem não tem, não é? Eu só posso te garantir que foi tudo real, foi tudo de mais verdadeiro que eu já tive. E que tá doendo muito mais em mim do que em você, cada palavra que eu digo parece ser uma chibatada no meu peito, porque eu vejo os seus olhos, eu sinto o que você sente. Eu tô sofrendo duplamente. Se eu pudesse eu sofreria cem vezes mais, e tiraria qualquer dor que eu possa estar te causando. Você não merece. Até porque, a causa disso tudo não é sua. É minha. Não é você, sou eu. Eu que não consigo mais levar esse relacionamento, eu que não sou bom o suficiente pra isso, eu que não pertenço mais a esse tipo de situação. Daqui um tempo você vai perceber que foi melhor assim, que nós dois já não éramos mais um. E você vai ser feliz, muito mais do que já foi agora, eu vou ser também. E não, não posso te falar o motivo pra isso, eu não tenho um. E novamente, não, não tem nada que você possa fazer pra eu voltar atrás. Eu não quero mais você.”

Muita gente pode dizer que foi um jeito até fofo de terminar. Eu digo que é um jeito cruel, que é o pior jeito de todos. É um discurso que não te permite ter raiva da pessoa e que não te dá uma razão a qual culpar. Tudo que você tem é que você era muito legal e que a culpa é da outra pessoa, e o motivo é nenhum. Só ficam as memórias de tudo que se viveu, martelando, assombrando, gravando aparentemente de maneira permanente na cabeça, pra não te deixar esquecer nem durante os sonhos.

Só fico me perguntando: por que a gente não pode ter ao menos a verdade? Por que essa história de dizer que é um problema consigo mesmo? Por que não dizer logo na cara que a culpa é do outro, que a pessoa não completa mais, que o seu jeito já não agrada, que seu sorriso não brilha tão forte ou que os olhos deixaram de falar? Admitir quais foram os erros, quais as características tão inadmissíveis, qual foi o momentos em que se perdeu.

Ou então a pessoa vai perceber depois de um tempo, que mesmo sem a intenção, as palavras ditas foram as mais certas. Era realmente ela, que não era boa o suficiente, que não pertencia a uma coisa tão especial, que era cega e não via quão sortudo era por estar num relacionamento tão bonito. E mais uma vez estava certo quando disse que você perceberia que não dava mais certo, que encontraria alguém e que seria feliz, porque você vai ser. Mas ela errou em um ponto. Essa pessoa não vai ser tão mais feliz, pelo menos não quando perceber o que jogou fora e agora é ela que não pode mais fazer nada pra te ter de volta.


Yara Lopes


sábado, 4 de junho de 2011

E daqui pra frente?


Muitas vezes é difícilconseguir entender a sua própria vontade. O que realmente se quer? Qual é a opinião verdadeira?

Uma das coisas mais atormentadoras que existem é o nascer de uma dúvida, uma daquelas que te fazem perder a sua base, sua personalidade, sua essência. O que é real? Durante todo esse tempo em que essas perguntas não vieram a tona, quem era você? E daqui pra frente? Deve-se fechar os olhos para o mundo novo que acabou de ser apresentado e continuar vivendo como sempre em sua área de conforto ou se aventurar num abismo desconhecido e cheio de possibilidades? Quem você deseja ser?

Seria realmente possível escolher os caminhos que queremos trilhar, construir uma pessoa em você, desenhar a sua vida? Até que ponto somos responsáveis pelo nosso interior? Onde termina a nossa vontade e onde começa o que já nasceu em nós?


Me pergunto se haveria uma fora de controlar determinados impulsos que aparecem na mente da gente. Seria natural se pudéssemos escoonder? É o que queremos? Seria útil poder lidar melhor com esses desejos repentinos que só fazem crescer.

São milhares de perguntas e dúvidas borbulhando no coração e passando de maneira escorregadia e perturbadora por todo o corpo. Não consigo decidir o que fazer, quem gostaria de ser ou aonde isso vai dar. Mas minha imaginação consegue montar um futuro possível e ele é deliciosamente perigoso.

Yara Lopes

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mesclando

Imagens passam como borrões
Nada é definido, estático
Mesclam-se aos sons
Seriam músicas ou apenas ruídos
As coisas fluem, simplesmente
De uma forma inexplicável
Não precisa fazer sentido
Basta existir
Viver
Sentir
Ser

Yara Lopes

sábado, 7 de maio de 2011

Dia das Mães


Amanhã é dia das mães. Uma data muito especial pra todo mundo, mas tenho uma afeição particular por ter nascido no segundo domingo de maio, fui um presente pra minha mamãe. Agora pela primeira vez em todos esse anos, passarei esse dia longe dela e isso só me faz perceber o quanto faz falta não poder estar ali do lado, só pra saber que a pessoa está por perto, que está acessível a um grito, está pronta pra um abraço.

Tenho certeza de que todos dizem que sua mãe é a melhor do mundo, é óbvio. Mas a minha mãe tem características exageradas até mesmo para o padrão de mães. Ela até hoje vai a noite no meu quarto, quando estou de férias em casa, pra ver se os pernilongos estão me mordendo, faz meu café-da-manhã e ainda leva na cama nos dias em que estou mau humorada, grava os filmes que eu provavelmente vá gostar só pra eu não perder nada, deixa de fazer suas próprias programações pra fazer as minhas e tem a coragem de vir ao Rio passar 12 dias e não sair de casa, só ficar cozinhando e me fazendo companhia pra me ajudar a superar um momento de tristeza. Ela é aquela pessoa que me ouve independente da hora, que me ouve reclamar das coisas mais ridículas e ainda fica me dando razão, é quem me faz acreditar em mim mesma quando ninguém mais consegue, é quem me dá os melhores conselhos, mas que também sabe ouvir quando está errada. Ela faz promessas pra eu ficar feliz, faz várias campanhas de oração e me lembra todos os dias de como eu sou especial e de como eu mereço coisas boas.

É triste que muitas vezes eu olho pro lado pra comentar alguma coisa engraçada de um filme com ela, mas ela não está, ou quando tenho um pesadelo e não posso chamá-la pra me colocar pra dormir de novo. Eu chego em casa da faculdade e não posso contar o que aconteceu e nem ter expectativas do que faríamos pra comer, nem do que aconteceu enquanto estive fora ou para quanto subiu o kilo da ameixa. É como se faltasse uma mão minha, e os 3 anos morando longe não me fizeram achar mais fácil ou deixar de chorar várias vezes sozinha por ter tudo o que eu mais quero a tantas centenas de kilometros de mim.

Uma coisa pelo menos me conforta, nunca deixei de falar a ela o quanto a amo e continuo falando, mesmo que seja pela frieza sem abraço do telefone, nem do quanto ela é importante pra mim. Não espero para o dia das mães para fazer alguma coisa de legal, para comprar um presente ou para ser boazinha. Porque todos os dias ela está ali por mim, me dando amor, cuidando de mim. E tudo que eu queria era poder ter mais de 24 horas por dia para demonstrar o meu amor. E poder fazer isso amanhã, ao lado dela. É agraciado quem pode estar com a mãe pertinho agora, e deve perceber todos os dias, não só uma vez ao ano.

Mami, você é o ser humano mais incrível que eu já conheci. Te admiro, te amo, sinto saudades.

Yara Lopes

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Falta

Diante de tantos motivos pra se estar feliz
Escolho estar triste
Vejo muitos lugares lindos
Mas prefiro a solidão do meu quarto
Ouço palavras belas e doces
E recolho-me ao silêncio
Abrem-se portas e surgem oportunidades
Caio sempre no limbo
Falta a vontade
Sobra tanta falta

Yara Lopes

sábado, 2 de abril de 2011

Um vicio social


A gente costuma esperar alguma coisa das pessoas, da vida, do mundo. Estamos inseridos em uma sociedade e é óvio que existam regras a serem cumpridas, convenções sociais que devemos seguir, comportamentos que se provam mais aceitáveis. Devemos falar um "bom dia", usar talheres nas refeições e respeitar as leis que regem o nosso país. Dentre os inúmeros tópicos que compõe o cenário de vida em sociedade, existe um que no momento se destaca: o compromisso com a verdade.

Todo mundo gosta de dizer que a verdade é uma das coisas mais bonitas e importantes na vida, que ela deve ser buscada, preservada e vivenciada no dia-a-dia. Ninguém gosta de ser enganado, de ouvir uma mentira, de perder a tão buscada verdade. É uma vontade de ter a sinceridade que ultrapassa os limites de outros desejos. No entanto, mesmo querendo tanto, quantas vezes nos dispomos a oferecer essa honestidade pura e total que esperamos receber? Em quantas situações nós somos sinceros por completo, sem contar nenhuma mentira? Qual foi a última vez que deixamos de fornecer a versão verdadeira?

As pessoas mentem o tempo inteiro. Sejam "mentirinhas" ou não, estamos sempre inventando, mudando, torcendo e distorcendo os fatos, que aconteceram ou não, fora as "previsões" que não tem a mínima chance de acontecer. Não acredito muito nisso de "mentirinha", porque por mais que existam as coisas que terão uma consequência maior e que estão muito mais alteradas, ela não deixa de ser uma mentira, é uma alteração do que de fato acontece, ponto final. O caso é que quando alteramos uma coisa mínima, começamos a ter coragem de fazer o mesmo com algo bem mais importante, e mesmo que em algo pequeno, esse detalhe pode fazer toda a diferença (até porque se fosse um detalhe tão sem importância não nos daríamos ao trabalho de mudar a versão original e apresentar uma fresquinha produzida em nosso cérebro).

A mentira já se tornou um vício social, algo normal e aceitável. O que acontece hoje é que o complicado é encontrar alguém que não utilize desse subterfúgio para se ver melhor em alguma situação, para se ver ileso de alguma punição ou para agradar simplesmente. As pessoas mentem no emprego, na faculdade, em casa... Seja dizendo que ficou doente e não pode ir à aula quando na verdade estava apenas com preguiça, ou dizendo que não está em casa quando não se quer atender um telefonema ou dizendo que chegou tarde porque estava estudando pra uma prova quando na verdade estava namorando um pouquinho. "Você não está gorda", "Ele é só um amigo", "Eu gosto da sua comida", "Eu li toda a matéria", "Tentei te ligar mas o celular acabou a bateria", dentre outras são frases clássicas de mentira, e quem usa se defende dizendo que foi necessário, ou que não queria magoar ninguém.

É muita hipocrisia enchermos a boca pra falar da importância da verdade, pra pedirmos tanto para não faltarem com ela, quando estamos inseridos numa sociedade em que a mentira é quase rainha, é uma prática "aceita" e até incentivada. Isso é uma das coisas que mancha e desgasta a vida em comunidade que temos, causa um ciclo vicioso, dá início a um desmoronamento. Infelizmente é muito idealismo achar que isso vai mudar, ou até falar alguma coisa bonitinha aqui do tipo"vamos ser verdadeiros, chega de mentira, gente", se eu mesma sei que minto, se há poucos dias celebramos o dia da mentira em que todo mundo se diverte enganando uns aos outros. O que eu posso dizer é que da próxima vez que exigir tanto do outro uma postura sincera, pense na sua própria e veja quão merecedor disso você e se suas atitudes podem te colocar nessa posição de exigir. Feliz ou infelizmente, nada é tão verdadeiro quanto parece, nem tão falso.

Yara Lopes

PS: Idéia central fornecida pelo Lucas Carvalho. Obrigada, lindinho.

terça-feira, 29 de março de 2011

Pessoas especiais


Como as pessoas se tornam tão especiais na nossa vida? Às vezes eu fico pensando em como é possível existir tanto amor, tanto carinho, tanta vontade de estar perto. O fato é que somos seres passionais, levados pelos sentimentos, movidos pelo contato com outros seres tão passionais quanto, e por mais racionais que possamos tentar ser, por mais lógica que tentemos usar, por mais descobertas científicas que possamos alcançar, no fundo o que realmente importa é o que se sente.

Hoje é aniversário de uma das pessoas mais especiais na minha vida, e por infortúnio do destino, estamos com mais de 1000 km de distância. Mas isso é apenas a distância física, porque eu sei que nossos corações podem ficar perto um do outro, toda vez que fecho os meus olhos e penso com muita força, quando a gente se sintoniza, as minhas lembranças me fazem quase pensar que ela está aqui do meu lado. Ela me fazia mamadeira quando era só um bebê, me dava banho e me colocava pra dormir, cuidava tanto de mim que cheguei a chamá-la de mãe. Ao longo dos anos, mesmo que eu já soubesse andar e comer sozinha, ela nunca deixou de me dar atenção e amor, de me ensinar as coisas e de se preocupar comigo. Muito mais que uma irmã, uma união não só de fraternidade, de amizade, de maternidade, de cumplicidade que vai ser eterna.

Estar longe das pessoas que te marcam fazem pensar o quanto somos vulneráveis e dependentes, o quanto precisamos das pessoas, de cuidado, de afeto. A verdade é que não precisamos de muita coisa pra amar, pra deixar uma pessoa entrar na nossa vida. Parece que é tão complicado, mas na verdade é muito simples. É questão de um abraço num momento inesperado, uma mensagem desejando um bom dia, um recadinho em cima do travesseiro, um cobertor no meio da noite pra você não sentir frio, um almoço surpresa, a doação de uma hora dentre as 24 que temos no dia pra ouvir o outro, é um sorriso.

Quantas vezes nos encontramos tristes ou com um humor terrível, e pensamos que tudo o que mais queríamos era um colo, um cafuné, alguém que nos desse um abraço e nos desse sua presença simplesmente, que nos dissesse que estaria ali e que tudo ficaria bem? Mas não só de receber o mundo é feito. Quantas vezes nós fomos esse colo tão necessário pra alguém? O amor pode fluir de forma tão fácil, mas o egoísmo impede que isso aconteça por nos fazer esquecer que também precisamos cuidar e não só ser cuidados, precisamos cativar e cultivar, e não só ser cativados e cultivados.

Se tentássemos com mais afinco sermos especiais pras pessoas, com merecimento, o mundo poderia ser muito mais bonito, muito mais leve. Alguém cuidou de mim por muito tempo, acordou cedo pra fazer meu café da manhã, me consolou quando estava triste e pensou primeiro em mim do que nela mesma. Eu quero passar esse amor de volta, e ser essa pessoa pra alguém que também precise de mim. Um pouco te atenção e carinho, é só o que o mundo pede. Se doe um pouco. Se permita receber.

PS: Te amo, irmã

Yara Lopes