sábado, 3 de julho de 2010

O convite de Amanda- I


Bruno sempre a observava de longe, numa cobiça um tanto quanto desesperançada. Ela era linda, cada pedacinho dela o fazia ter vontade de olhar mais, de encontrar uma outra parte a ser admirada. Amanda era morena, baixinha, os cabelos longos e negros caiam como uma cortina ao redor do rosto angelical, seu sorriso era capaz de derreter até a ele, sempre tão fechado, com seus sentimentos guardados pra si mesmo. Ao mesmo tempo que desejava poder estar perto dela, segurar suas mãos, fazer um carinho em seus cabelos, se assustava e desejava ficar invisível quando a via se aproximar. Nem ele entendia muito bem o que acontecia, mas toda aquele ar de felicidade e confiança, todas aquelas pessoas que sempre andavam ao redor dela, todo o bando de meninas que queriam ser como ela... Às vezes parecia muito mais do que ele poderia suportar. Se perguntava se o desejo por ela seria maior do que o seu medo, mas logo o pensamento voava com o vento, ele não acreditava que poderia ter uma chance.

Na sala de aula, ele reparava nos movimentos dela, muitas vezes desatenta, mais preocupada com a simetria das unhas e a perfeição da maquiagem do que com a matéria que o professor colocava na lousa, passava bilhetinhos para as amigas e lia revistas de celebridade embaixo da mesa. Ele não entendia como ela conseguira ser aprovada todos esses anos, o colégio era um tanto quanto rígido, e a não ser que ela fosse super dotada, não sabia como ela absorvia a matéria. Essa era apenas umas das coisas que ele desconhecia, e havia mais um universo inteiro de coisas sobre ela, sua personalidade, seus gostos, seus sonhos, seu jeito, cada detalhe que formava a Amanda que ele era doido pra descobrir. Será que ela gostava de gatos ou cachorros? Gostava de flores? Praia ou campo? Refrigerante ou suco? Frio ou calor? Carta ou email? A cada opção uma teia ia se formando na cabeça dele, cheia de cenas que só existiam no imaginário e longos diálogos reveladores. Imaginava se um dia aquelas cenas chegariam perto de acontecer e quais seriam as suas escolhas, suas perguntas e respostas.

O ano letivo foi passando, eram frequentes as divagações de Bruno em relação a Amanda, mas nada mudara no plano real, ele nunca tentara se aproximar, ela não parecia perceber que ele estava por perto. Se essa situação não tivesse mudado, a história dos dois não existiria, muita coisa seria diferente. No entanto, o destino cumpriu o seu papel, fez os dois caminhos se intercalarem, formando um só.

O sinal da última aula soou, e na sala reinou a confusão de sempre. Dezenas de adolescentes falavam ao mesmo tempo, combinando encontros do fim de semana, comentando a chegada das provas e das chuvas que surpreendiam. Cadeiras e mesas rangiam ao serem arrastadas, cadernos e livros fechados, tudo enfiado na mochila às pressas. Bruno, como sempre, continuava em seu lugar, arrumando suas coisas sem pressa, anotando o que tinha pro dever de casa-nem tanto por ele, mas porque toda tarde o amigo Rui ligava para saber quais eram as atividades- e esperando a confusão de fim de aula diminuir um pouco. Estava acostumado a ficar com a sala vazia e não se importava com isso. Jamais esperava que quando levantasse os olhos de seus materiais encontraria olhos tão doces esperando por ele, menos ainda acompanhados daquele sorriso tão aberto. Amanda estava ali, e obviamente, já que não havia mais ninguém na sala, esperava por ele.

-Oi Bruno-ela disse de uma jeito leve e despreocupado.

-Oi Amanda-a saudação dele foi um pouco mais tensa, revelando sua confusão com aquele encontro.

-Você sempre fica aqui escondido do resto das pessoas, é?-ela continuava num tom que oscilava entre o amigável e o zombeteiro.

-Não gosto muito de andar nessa confusão de gente, e além disso, não estou com essa pressa toda de deixar a escola-ele dizia tentando usar o pouco que sabia sobre linguagem corporal pra ver através das palavras de Amanda. E você, o que faz por aqui?

-Não tá na cara, Bruno?

-Hum, não.

-Vim falar com você, ué. Não posso?

-Claro que pode, só não é algo muito comum. Na verdade, nunca aconteceu.

-Bom, dizem que sempre há uma primeira vez.

-É verdade.

O silêncio reinou por alguns instantes, causando uma situação um pouco constrangedora. Bruno, principalmente, não conseguia ficar a vontade. Não conseguia pensar em algo pra dizer, nem pra onde olhar.

-Vim aqui, na verdade, pra saber se você tem alguma coisa pra fazer esse fim de semana. Tem?

-É, se eu disser que não, o que você vai dizer?

-É aniversário do meu irmãozinho, minha mãe vai fazer uma festinha, me pediu pra chamar alguns colegas da escola.

-E você pensou em mim?

-É, sei que você não se enturma muito, nunca te vejo com o pessoal da escola. Mas como eu já disse, tudo tem uma primeira vez. E aí, você vem?-ela dizia aquilo com um toque de dúvida e esperança.

-É...-como ele poderia dizer não? Vou sim, é claro.

-Que bom! Olha,-ela estendi um papelzinho dobrado várias vezes- aqui está meu endereço e meu telefone. Tá tudo certinho, mas qualquer coisa, pode ligar.

-Tudo bem.

-Até amanhã, Bruno.

-Até.

Bruno assitiu calado enquanto enquanto Amanda se virava e saía da sala, deixando-o com um sorriso meio bobo e com a mente fervilhando. Apesar de todo choque, ele não podia esperar pela chegada do dia seguinte.


[Continua]

Yara Lopes

Um comentário:

  1. Espero que a continuação já esteja escrita no seu computador, pronta para ser postada e só esperando você encontrar uma brechinha pra efetuar a ação. =DDD

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