terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fragmentos do espelho


Há alguns dias atrás eu tive um pequeno problema, passei mal na faculdade, fiquei meio dependente das pessoas me ajudarem. Apesar da dor que eu sentir e da problemada que causou pra todo mundo, foi um experiência muito interessante, me deu muitas coisas pra pensar. O Felipe logo me acodiu e mobilizou tanto pessoinhas da outra turma quanto uma das meninas qe mora comigo, ou seja, fez aquela confusão e eu fiquei morrendo de vergonha. Mas foi tão lindo, ver ele todo preocupado, ligando pras pessoas, me perguntando se eu estava bem, que remédio eu queria tomar e tudo mais, e o mais fofo de tudo foi ver as pessoas que ele estava chamando chegando, preocupadas comigo. Ficaram comigo o tempo todo, brigando pra me levar pro hospital(que eu não deixei, é claro), pegando na minha mão, me dando o ombro pra encostar, me chamando pra ir pra casa, me carregando nos braços até o táxi, comprando remédios, fazendo comida... Minha mamãe ficou super preocupada, achando que eu estava quase em perigo, doente e abandonada, mas foi totalmente o contrário. Eu me senti protegida, cuidada, em casa mesmo. E foi isso que me fez refletir sobre quem são as pessoas que estão mesmo ao seu lado, sobre como é demonstrado o amor e o que é um lar. Eu sinceramente tinha uma impressão mais negativa de cidade grande, até porque eu venho do interior, onde as pessoas todas se conhecem, os pais conhecem uns aos outros, onde você vai ao supermercado e a gerente pergunta se sua avó voltou de viagem. Aqui no Rio eu sabia que não teria nada disso, as pessoas não seriam minhas amigas logo de cara, você não deve sair sorrindo e abraçando todo mundo e nem dando bom dias(deu pra ver as caras estranhas quando eu fazia isso, até hoje o cara da banca de jornal deve achar que eu tenho probleminhas). Mas isso acabou fazendo com que eu pensasse que nesse lugar as pessoas eram de fato frias, só se importavam consigo mesmas e que eu não teria fortes laços. Morria de medo do que aconteceria se eu passasse mal aqui, quem iria cuidar de mim? Sem mamãe, sem papai, sem meus irmãos e sem minha melhoramigavizinhairmãamoreterno? Eu tinha medo de precisar de pessoas, olhar para todos os lados e não encontrar ninguém. Eu tinha medo de não encontrar calor humano, de ficar sozinha. Mas eu percebi que na vida, não precisa ser tudo 8 ou 80. Sim, existe intermediário mesmo quando não se parece, mesmo quando não se consegue explicar direito, ou demonstrar. As pessoas não precisam me abraçar o tempo inteiro e nem saber detalhes da família pra serem amigas e se preocuparem. Pessoas são diferentes, os lugares trazem costumes e modos de viver que muitas vezes chocam bastante, mas não é isso que vai mudar o sentimento, não é isso que vai impedir a criação de afeto, e isso é muito, muito maravilhoso. Nos lugares mais improváveis pode ser encontrado o que você mais procura, você acaba se identificando mais com pessoas que acabou de conhecer do que com outras com quem viveu a vida inteira, de uma hora pra outra enxergamos o que de fato nos completa, onde está o que pode nos fazer feliz. E esse lugar feliz não precisa ser aquele de sempre, familiar, fácil e confortável. Pode ser um ambiente ainda meio estranho, inexplorado, desconhecido e nada familiar, mas ainda assim com uma instantânea e mágica conexão com o seu interior. É como olhar pro outro e se reconhecer ali, como se antes você se olhasse num espelho embaçado e não reparava em todos os seus detalhes, até olhar pra esse espelho alternativo que é essa situação toda nova e ver um pedaço seu refletido, uma parte que talvez antes não tivesse sido descoberta, talvez não fosse tão importante, mas que agora faz toda a diferença. Estou tentando ver melhor esses meus detalhes que eu não estava enxergando no meu espelho embaçado do passado. Na verdade, estou vendo que meu espelho estava completamente sujo e distorcia um pouco o que eu achava que eu era, a imagem que era mostrada pra mim de mim mesma. E estou gostando do que estou vendo. Encontrei mais sentimento, mais espontaneidade, criatividade, humor e até inovação. Eu pensei que estava me recriando diante da situação nova, me adaptando ao lugar e ás pessoas. Estava errada. O tempo todo eu só estava deixando vir a tona o que já existia dentro de mim, eu estava limpando o meu espelho e mostrando um "eu" bem mais completo, mais real, que nem eu mesma conhecia. E foram essas pessoas que eu julgava frias e descompromissadas que me ajudaram a me ver melhor, foram elas que me deram apoio quando eu fraquejei, que riram comigo num momento engraçado, que me deram e me pediram um ombro pra chorar. Eu aprendi a confiar nessas pessoas e a ser uma confidente, eu me deixei fazer parte de um todo e esse todo já é parte de mim também. Rimos, choramos, passeamos, cozinhamos, conversamos, dormimos, ensinamos, brigamos, amamos, descobrimos, somos. Tudo muda e permanece quando simplesmente nos permitimos. Viver, experimentar, conhecer, ser. Criamos memórias que vão se costurando e formando um quadro bonito diante dos nossos olhos, algo que só tende a crescer que nos dá possibilidades. Cresceremos, venceremos, sonharemos, aprenderemos, teremos, seremos. Nada pode ser agora sem ter sido alguma coisa antes, sem poder ser num futuro. Tudo que existe agora teve um fiozinho que criou no passado e vai repercutir no futuro. E são pessas, lugares, momentos, atitudes e escolhas que vão formar e ter a chance de transformar tudo isso. Pro que foi, pro que é, pro que será. Estranhos se tornam família, uma selva se torna um lar. Eu sei, você deve estar lendo tudo isso e não entendendo nada, achando que nada fez sentido e que eu sou louca. É, talvez nada disso faça sentido mesmo, mas talvez faça. Talvez o mundo não faça sentido. Eu posso ser confusa, posso ser meio louca, posso ser estranha. Mas tenho tentado ser honesta comigo mesma, quero me descobrir. E nesse caminho encontrei muitas pessoas bem diferentes de mim, mas que de certa forma, eram fragmentos do meu espelho e me ajudaram a ver.

Yara Lopes

2 comentários:

  1. oooo que lindinha, *-*.
    haha, ate imagino sua cara vendo várias pessoas tentando dar um jeito de fazer seu mal estar desaparecer de algum jeito. Logo vc que fica se perseguindo e achando que tá dando trabalho por qualquer coisinha, dã.
    Adoooro seus textos! E adoro repetir isso tbm, rsrs.
    Terei com certeza pelos menos um dos 10 primeiros exemplares dos seus livros chegando à minha casa a cada vez em que forem lançados. Vc vai me mandar todos, é claro!! =DD
    Saudadona, nêgã.
    beijos, da..
    melhoramigavizinhairmãamoreterno s2
    há :P

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  2. Foi muito bom ler isso, agora que vou me mudar para uma capital, também tenho muitos receios, até antes de ir pra lá Huahuahuha. Espero ter as mesmas experiências boas que você.
    Beijos, continue escrevendo, você faz ótimos textos Yara!

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