segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O que ficou


A gente tem umas vontades muito estranhas de vez em quando. Tudo bem, por "a gente" eu digo eu mesma, confesso. Tenho vontades estranhas, aleatórias e incovenientes. Elas aparecem sem me dar nenhum aviso e ao contrário de outras coisas que vão embora tão repentinamente quanto chegaram, resolvem ficar e acampar na minha cabeça. De vez em quando resolvem se mudar pra sempre, até que eu sucumba aos seus planos terríveis.

Não, não é drama. Queria eu que fosse apenas isso. Queria eu que fosse uma coisa da minha cabeça, uma birra, uma manha. Poderia ser qualquer coisa, contanto que não fosse a coisa que é. É verdade, é certo, é um fato. Então eu fecho os olhos, bem forte, até formar aquelas manchas meios coloridas e as pálpebras doerem. Eu canto dentro da minha cabeça pra tentar afastar os pensamentos. Eu uno as minhas mãos, faço uma oração silenciosa, um misto de prece com confissão, desesperada, aflita.

Mas não posso ficar assim pra sempre. Abro os olhos, cesso a canção, solto as mãos. Vejo que nada disso funcionou. Você continua ali, parado, alheio a tudo que tem acontecido. Enquanto eu ainda penso, ainda sinto, ainda espero, depois de tanto tempo. Ainda sinto as mãos suarem, fico nervosa, o coração acelera. Parece a quinta série de novo, eu mais boba do que nunca. Parece daqui a 50 anos, eu ainda me lembrando. Parece não ter tempo nenhum, porque sentimento é alheio a esse tipo de coisa. É váculo, velocidade da luz, queda livre, desaceleração, tendência ao infinito, tudo que possa fazer sentido e sentido nenhum. Tudo. Nada. E tudo de novo, só que duplicado.

Não achei que um olhar pudesse trazer tantas coisas ao mesmo tempo. Frio, medo, adrenalina. Saudade, felicidade, salto. Chocolate, choro, dengo. Perder, sofrer, lembrar. Tentar, tentar, tentar. Raiva, agonia, aflição. Desespero. E uma paz, tão desconfortante e promissora, que promete falsamente que tudo ficaria bem. E o pior de todos os monstros, a expectativa. E claro, ela sempre finda. Sobraram as lembranças. E a saudade, ah, que saudade...

Um comentário:

  1. Concordo com absolutamente tudo que você escreveu pq sou assim tb. Até nos detalhes. Lindo texto.

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