Transitividade
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Ainda
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Será que importa?
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Sim, pra sempre
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Poderia ter sido
Se eu ao menos pudesse fugir com você. Com certeza eu fugiria, pra qualquer lugar, a qualquer hora. Eu consigo projetar uma vida pra gente, cheia de alegria, de amor, de eu e você, teria tudo que precisamos. Não é difícil acreditar que tudo isso que se forma dentro da minha cabeça poderia ter sido verdade, e assim todos os meus sonhos teriam se tornado realidade, como num passe de mágica, se tal coisa existisse de verdade.
Tudo poderia ter sido diferente, sabia disso? Se as suas juras de amor fosse verdadeiras, o mundo todo seria outro, ao menos pra mim. Eu teria motivos pra dar bom dia pro sol, acharia até que ele brilhava mais forte, eu sentiria o perfume das flores e viveria todos os clichês dos apaixonados, mas o faria feliz. E eu começo a pensar, se as suas promessas não eram verdadeiras, duvido que alguma coisa no mundo possa ser. Começo a duvidar do que existe de verdade, em que eu posso acreditar, no que depositar as esperanças. Será que eu construí um mundo inteiro em cima de bases de ar? Devo ter sido ingênua demais, mas não me arrependo.
O tempo tem passado, pelo menos é o que diz o calendário, o relógio, a televisão, as notícias de jornal, o mundo lá fora que continua passando, como se nada tivesse acontecido. Não pra mim. Eu fiquei congelada há um bom tempo, meus sentimentos estão da mesma maneira que você os deixou, meu coração continua batendo, mas pelas mesmas razões, meus sonhos dão vida à tudo que eu desejo que fosse realidade. Às vezes me perco em mim mesma, não sei mais onde estou vivendo, nem porquê. Não sei mais se me alimento de fantasias, se vivo a realidade, ou se existe diferença entre esses dois mundos. Como podem as pessoas continuarem seguindo seu caminho, como podem os compromissos terem prazo, como pode uma vida continuar se a minha não está completa? Não sei o que responder quando me perguntam, nem mais o que indagar, pra onde olhar.
Ah, meu amor. Como eu queria ter congelado quando ainda estávamos juntos, quando tudo ainda fazia sentido, quando o mundo ainda era um lindo lugar onde se viver. Como queria ter dito a você mais vezes o quanto eu era feliz por você estar ali. Como eu queria ter percebido o quanto eu era feliz por você estar ali.
Olho uma fotografia e vejo que pra você talvez aquilo seja a única coisa que resta de nós dois, uma imagem vaga, de uma antiga felicidade que passou. Pra mim ainda é tudo, ainda queima, ainda dói, ainda alegra, ainda vive. Talvez apenas por agora, ou por toda uma eternidade. Amor é sim fogo que arde, mas que pode ser visto assim que eu olho pra você.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Irracional
I had hoped you'd see my face
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
A janela
Ela não sabia mais o que fazer, por onde começar, que caminho tomar. Parecia tudo tão confuso, turvo, como se ela tentasse olhar através de uma janela suja em um dia de chuva e muita neblina. Não era possível ver nada a sua frente, não havia forma de previsão. A única alternativa era confiar, cegamente, fazer uma tentativa e acreditar que ela daria certo, era uma arma de um tiro só, uma chance só.
Sabia que se saísse dali aquela chuva e vento iriam envolve-la, que estaria frio e que era perigoso. Quantos perigos aquela noite poderiam trazer? O que se escondia nos cantos, longe dos seus olhos fracos? Talvez fosse forte o suficiente para enfrentar e acabaria saindo em algum lugar com bastante luz, segurança e conforto. Talvez aquela vontade que ela havia alimentado dentro dela fizesse com que o sol se abrisse e que tudo ficasse claro, ou que ela sobrevivesse bravamente até o dia em que o cenário mudasse. Talvez.
Pensou nas alternativas que tinha. De fato, não eram muitas. Existia até a possibilidade de não haver alternativa nenhuma, de estar destinada a fazer uma escolha, tudo já poderia estar traçado. Costumava pensar nisso quando decidia acreditar em destino. A sua vida poderia já estar escrita e nada daquilo fizesse sentido de verdade, as esperanças, a ilusão de que haveria uma escolha, de que era dona do seu caminho. E quem era ela para lutar com forçar maiores do que esse mundo que a gente conhece? Um dia saberia que esteve sempre com amarras, obrigada a ser daquela maneira, a viver aquela vida? E se pudesse de fato escolher, sem influências, sem obrigações, saberia fazer isso? Era quando ela voltava a acreditar que o futuro estava em suas mãos, e pensava com cautela, qualquer passo errado poderia mudar tudo.
Poderia continuar ali, segura, livre da chuva e do vento. Poderia olhar tudo por aquela janela suja. Poderia? Viver ali dava uma sensação de segurança, mas era uma vida vazia, sem emoções, sem expectativas. Em determinado momento nem mais poderia chamar de viver, era mais vegetar, existir somente, sem nenhum sentido, nada que fizesse os olhos acenderem com brilho. Mas sim, estaria segura. Saberia o que a esperaria, na verdade o nada a esperaria, uma calmaria que aos poucos se transformaria em tédio. Valeria a pena? Não, não se pode viver assim. Mas e a coragem? E a determinação pra enfrentar a escuridão? Ali dentro estava tão quentinho, nada poderia chegar até ela. E ela ainda poderia ver o mundo pela janela. Não era tão ruim. Era?
Ela fechou os olhos. Desejou ser outra pessoa, em um outro lugar, com outros pensamentos, outras alternativas. Outras pessoas não deveriam ter que fazer esse tipo de escolha, não acreditava que existiam outros lugares como aquele. Seria tão mais fácil viver uma outra vida. Ficar ou sair? Seria tão mais fácil viver uma outra vida? Quem ela gostaria de ser? Alguém gostaria de ser quem ela havia se tornado? Algo ainda poderia ser feito. Talvez pudesse enfeitar o lugar com fotografias do mundo lá fora, ficaria mais bonito, mais fácil de aceitar. Ou poderia vestir uma roupa quente, botas de borracha, uma capa de chuva e ir pra fora, também seria mais fácil.
Abriu os olhos, respirou fundo. Olhou pela janela mais uma vez.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
O que ficou
Não, não é drama. Queria eu que fosse apenas isso. Queria eu que fosse uma coisa da minha cabeça, uma birra, uma manha. Poderia ser qualquer coisa, contanto que não fosse a coisa que é. É verdade, é certo, é um fato. Então eu fecho os olhos, bem forte, até formar aquelas manchas meios coloridas e as pálpebras doerem. Eu canto dentro da minha cabeça pra tentar afastar os pensamentos. Eu uno as minhas mãos, faço uma oração silenciosa, um misto de prece com confissão, desesperada, aflita.
Mas não posso ficar assim pra sempre. Abro os olhos, cesso a canção, solto as mãos. Vejo que nada disso funcionou. Você continua ali, parado, alheio a tudo que tem acontecido. Enquanto eu ainda penso, ainda sinto, ainda espero, depois de tanto tempo. Ainda sinto as mãos suarem, fico nervosa, o coração acelera. Parece a quinta série de novo, eu mais boba do que nunca. Parece daqui a 50 anos, eu ainda me lembrando. Parece não ter tempo nenhum, porque sentimento é alheio a esse tipo de coisa. É váculo, velocidade da luz, queda livre, desaceleração, tendência ao infinito, tudo que possa fazer sentido e sentido nenhum. Tudo. Nada. E tudo de novo, só que duplicado.
Não achei que um olhar pudesse trazer tantas coisas ao mesmo tempo. Frio, medo, adrenalina. Saudade, felicidade, salto. Chocolate, choro, dengo. Perder, sofrer, lembrar. Tentar, tentar, tentar. Raiva, agonia, aflição. Desespero. E uma paz, tão desconfortante e promissora, que promete falsamente que tudo ficaria bem. E o pior de todos os monstros, a expectativa. E claro, ela sempre finda. Sobraram as lembranças. E a saudade, ah, que saudade...